Título: Uma rotina de orações e ajuda aos mais pobres
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2009, Vida&, p. A28

Elas atuam na periferia das grandes cidades e nas regiões mais carentes do País

Irmã Inês Facioli, missionária carlista, da congregação de São Carlos Borromeu, dedica-se com outras duas companheiras a cortadores de cana no município de Guariba. São retirantes temporários que saem do Nordeste e do Vale do Jequitinhonha, em Minas, para trabalhar nas usinas do interior de São Paulo. "No começo, íamos aos canaviais, mas, como os usineiros proibiram nossa entrada, atuamos nos alojamentos, que têm até 300 homens", diz a freira. Na entressafra, quando os cortadores voltam para sua terra de origem, as missionárias vão visitar suas famílias. Elas fazem um trabalho de reflexão e catequese ao lado de padres e leigos da Pastoral do Migrante.

Sem abandonar a vocação ou carisma de sua congregação, que é a comunicação, as irmãs paulinas de São Paulo somam às atividades do ramo - livros, revistas e produção audiovisual - a manutenção de uma obra social na região de Grajaú, um dos bairros mais carentes e violentos da zona sul de São Paulo. Sob a direção de irmã Carmita Santana, que viaja duas horas de ônibus diariamente para coordenar uma equipe de profissionais leigos, o Centro de Promoção Humana Tecla Merlo atende 500 crianças e jovens em 13 projetos direcionados a mães de baixa renda. "Sou a única freira aqui e estou rezando para que alguma nova paulina queira me ajudar na periferia", diz irmã Carmita.

A radicalidade de novas comunidades, como a Toca de Assis, fundada pelo padre Roberto Lattieri, em Campinas, tem sido o segredo de novas vocações para a vida religiosa. "A proposta cresceu sob o imperativo da radicalidade ética - a opção pela pessoa do pobre/excluído que, diferente dos movimentos sociais e da Teologia da Libertação, tem um enfoque sócio caritativo", relata a professora Brenda Carranza, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. "Em tempos de anonimato metropolitano, a Toca é um lugar de pertencimento e reconhecimento."

É o que ocorre com a auxiliar de escritório Bárbara Pinheiro, de 19 anos, residente na zona leste, que todas as semanas acompanha irmãs e irmãos da Toca de Assis na Praça da Sé, onde há distribuição de sopa para cerca de 800 moradores de rua e desempregados. "Sou católica, sempre fiz minhas orações e, de repente, achei que essa dedicação radical aos mais pobres pode ser o meu futuro", confessa Bárbara, após rezar o terço e ouvir a leitura de trecho do Evangelho. A seu lado, a cearense Jacira Lucena Lopes, de 28 anos, postulante à véspera de iniciar o noviciado, fala de sua rotina: "Há quatro anos e meio estou na Toca de Assis para servir os pobres, dando comida, levando cobertor, fazendo as unhas e cortando os cabelos de quem vive abandonado nas ruas". Nas casas ou conventos da instituição, o tempo se divide entre oração, leitura da Bíblia e trabalhos manuais. Fundada há 15 anos, a Toca tem 2 mil membros, a maioria mulheres.

Pregação de retiros, oração, adoração perpétua do Santíssimo Sacramento e obras sociais são o carisma das Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo, congregação fundada, em 1984, em Vitória (ES), por madre Maria José do Espírito Santo. Com aprovação da Igreja, ela deixou o Convento de Santa Teresa, das carmelitas descalças, no Rio, para criar uma comunidade de vida ativa.

Fiel ao espírito do Carmelo, cujas freiras passam a vida fechadas atrás de grades, ela juntou um punhado de moças para trabalhar no meio do povo. Elas saem às ruas para o trabalho pastoral, viajando de ônibus ou carro. "As pessoas nos tratam sem preconceito e, se alguém faz uma provocação, tipo "que calor", eu reajo na base da brincadeira e respondo que o inferno é mais quente", disse irmã Maria de Lourdes Silva Lopes, 41 anos de idade e 14 de freira.