Título: Zelaystas pressionam Congresso
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2009, Internacional, p. A11

Aos gritos de "pátria ou morte", aliados do presidente deposto exigem que Legislativo devolva o cargo a ele

O Congresso tornou-se o novo palco da crise política em Honduras. Desde segunda-feira, zelaystas fazem uma vigília diante da sede do Legislativo hondurenho. Ontem, enquanto deputados decidiam consultar a Suprema Corte sobre o Pacto San José-Tegucigalpa, cerca de 400 partidários do presidente deposto entoavam canções tradicionais da esquerda latino-americana, xingavam e faziam olas, como em jogos de futebol.

A imprensa internacional não pôde entrar no Congresso. Apenas jornalistas locais - simpáticos ao presidente de facto Roberto Micheletti, na maioria - tiveram autorização para passar o bloqueio de cerca de 80 policiais. Os repórteres de canais pró-governo eram hostilizados.

Autoridades isolaram a frente do prédio do Parlamento com uma corda, atrás da qual se enfileiravam policiais e soldados do Exército. Cerca de três metros adiante, os próprios zelaystas colocaram outra corda, impedindo que manifestantes se aproximassem dos policiais. Repórteres que tentavam entrar no Congresso ficaram isolados entre as duas barreiras (local que os jornalistas apelidaram de "Faixa de Gaza").

Animados por membros da Frente Nacional de Resistência (FNR), manifestantes gritavam "pátria ou morte".

Eles adaptaram o refrão da tradicional canção cubana Guantanamera para "golpistas fuera" e, ao perceberem que a imprensa brasileira estava presente, bradaram: "Viva Lula. Viva Chávez." Com aparente cansaço, policiais e militares acompanhavam tudo em silêncio.

Após o Congresso decidir que consultaria a Suprema Corte, três deputadas aliadas do presidente deposto Manuel Zelaya decidiram entrar na multidão para dar a notícia em cima de um carro de som.

A informação causou alvoroço entre os manifestantes. "Morazán, Morazán, os golpistas já se vão", cantaram, em referência ao herói nacional Francisco Morazán.