Título: Onde tiver promoção, vou atrás, diz aposentado
Autor: Chiara, Márcia de
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2009, Economia, p. B3

Consumidores do Norte e Nordeste vão 17 vezes por mês ao supermercado, três vezes mais que a média

Os consumidores do Norte e Nordeste do País vão 17 vezes por mês ao supermercado, três vezes a mais que a média dos brasileiros, aponta a pesquisa da LatinPanel. A maior frequência de compras tem motivos: aproveitar as promoções e fazer o dinheiro render mais.

Severino Francisco da Silva, de 69 anos, ascensorista aposentado que vive no Recife (PE), vai ao supermercado pelo menos três vezes na semana. Prefere comprar "picado", levando o que falta em casa, e aproveitando as ofertas. Ele trabalha como porteiro - noite sim, noite não - e sempre observa o que está faltando.

Com um passado sofrido e marcado pela necessidade, quando trabalhava como cortador de cana em Macaparana, na Zona da Mata, gasta a maior parte da renda familiar, em torno dos R$ 1,6 mil, no supermercado. "Gosto de ver a cozinha sortida."

Na quinta-feira, ele estava no supermercado Todo Dia, no bairro popular de Afogados, onde mora, para comprar leite em pó integral, que estava em oferta. "Onde tiver promoção, vou atrás."

Segundo Severino, que também deixa um porcentual razoável da renda na farmácia, tudo começou a melhorar quando veio para a cidade (Recife), em 1986. Arranjou logo um emprego, conseguiu comprar uma moradia e os 8 filhos vivos, dos 15 que teve, foram se ajeitando. Hoje tem prazer em ter fartura. Até porque "casa de pai é coisa boa" e sempre tem um filho chegando para comer.

Como Severino, Glaucineide Severina de Souza, de 27 anos, dona de casa e mãe de quatro filhos, também aproveitou a oferta do leite em pó na última quinta-feira. Levou várias "bolsas", como chama os pacotes do produto, que segundo ela, é tão imprescindível como o feijão e o arroz. Com quatro filhos, ela vive do salário do marido, em torno de R$ 600,00, e recentemente passou a receber o benefício do Bolsa-Família, que lhe acrescenta R$ 134,00 mensais. "Lutei quatro anos para conseguir", diz ela que também incorporou à sua lista de compras novos itens, como catchup e maionese. Nos dias em que a geladeira e a despensa estão mais vazias, ela costuma usar catchup puro no pão, como substituto de manteiga.

PERCEPÇÃO

Os consumidores das classes A e B do Sudeste perceberam o avanço no padrão de consumo da população de menor renda, enquanto as suas compras ficaram praticamente estagnadas. Ana Maria Lacerda Teixeira, de 60 anos, casada e com dois filhos, diz que manteve o padrão de compras, mas notou que a vida da faxineira melhorou. O valor da diária subiu de R$ 50 para R$ 60.

O economista Celso Bugni, de 52 anos, observou que a sua empregada melhorou o padrão de vida. "Ela alugou uma casa melhor e comprou vários eletrodomésticos." Além da inflação baixa, Bugni também colaborou para a ascensão com um aumento de 10% no salário. "Acho bom que ela tenha melhorado. Diminuiu a desigualdade social."