Título: G-20 diverge sobre reforma do sistema financeiro
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2009, Economia, p. B9

Com a crise internacional chegando ao fim, países como EUA e China passam a expor suas diferenças

A China e Estados Unidos trocam farpas e evidenciam que, à medida em que a crise dá sinais de estar perdendo força, crescem as divergências entre os países do G-20 sobre como lidar com a reforma do sistema financeiro internacional. As diferenças ainda ocorrem à medida que, nos bastidores, os técnicos trabalham para tentar garantir, até o fim de 2009, o estabelecimento de um novo padrão sobre a liquidez dos bancos e, em 2010, um pacote global com novas regras para as instituições financeiras.

Durante o fim de semana, ministros de Economia se reuniram na Escócia, enquanto ontem começou na Basileia o encontro dos maiores bancos centrais do mundo, com a presença do presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles. Sob condição de anonimato, um dos participantes revelou ao Estado que o clima é de uma divergência cada vez mais pronunciada.

A China vem sendo atacada pela desvalorização de sua moeda, o que está ajudando suas exportações. Mas cria um desequilíbrio ainda maior na economia mundial. Pequim deve terminar o ano como o maior exportador do planeta.

Pequim rejeitou as críticas e intensificou a troca de acusações, principalmente contra os países ricos. Para o presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deve reforçar seu trabalho de monitoramento dos mercados financeiros e de política econômica nos países ricos. Quer ainda que países que contam com moedas que servem de parâmetro mundial se ocupem em não deixar que haja volatilidade.

Com isso, Pequim manda uma mensagem clara: no lugar de criticar a China, os EUA devem se preocupar mais em evitar uma desvalorização do dólar, freando uma nova desestabilização da economia mundial. Tanto na Europa como na América Latina e Ásia, a desvalorização do dólar vem tendo um impacto importante.

Outra divergência ainda foi criada a partir da ideia do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, de taxar operações financeiras. O tema ficou para ser discutido até abril. A proposta foi rejeitada pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. "Isso não é algo que estamos dispostos a apoiar", disse na Escócia, no sábado.

Na Europa, Reino Unido, França e outros governos afirmam estar dispostos a conversar sobre o tema. A ideia seria a criação de um mecanismo que permita que uma espécie de fundo seja coletado para ser usado em caso de necessidade pelos bancos. Assim, pacotes bilionários não precisariam vir dos bolsos dos contribuintes.

Geithner prefere que o pagamento de pacotes seja feito pelos próprios bancos que se beneficiaram da ajuda, uma vez que a crise tenha sido superada. Mas Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e porta-voz dos BCs na Basileia, indica que poderia aceitar a avaliação de alternativas de taxação sobre bancos. Mas há quem tema que a iniciativa europeia seja uma medida "populista" para ganhar a simpatia de eleitores.

Enquanto governos se enfrentam sobre qual deve ser a melhor estratégia, o Conselho de Estabilidade Financeira tenta manter seus trabalhos para encontrar uma nova moldura para o sistema.