Título: Tucano acha estranho tratamento do Supremo
Autor: Gallucci, Mariângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2009, Nacional, p. A6
Senador acusa Barbosa de ter incluído recibo falso no processo e insinua que houve privilégio no caso de Lula
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) acusou ontem o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa de ter incluído em seu processo um recibo falso, no valor de R$ 4,5 milhões, e insinuou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu tratamento privilegiado do Ministério Público.
O recibo não constou da denúncia feita pela instituição contra o tucano, apontado como um dos envolvidos no chamado "valerioduto mineiro", com suposto desvio de recursos de empresas estatais e de lavagem de dinheiro.
Azeredo considerou "estranho" a inclusão de seu caso em um processo penal, como sugere o ministro, uma vez que Lula ficou fora do "mensalão federal". "A situação é muito semelhante. Eu era governador, era uma campanha descentralizada, com delegações de poderes, e o presidente Lula também concorreu em situação semelhante e não recebeu nenhum inquérito a esse respeito", afirmou.
O tucano é acusado de envolvimento com o suposto esquema de arrecadação ilegal de recursos na sua campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998. Azeredo nega a existência do chamado "mensalão mineiro". Presidente do PSDB na época em que estourou o escândalo do mensalão, o senador Tasso Jereissati (CE) permaneceu ao lado de Azeredo durante toda a entrevista.
Dizendo-se indignado, o tucano garantiu que é falso o recibo apresentado por Joaquim Barbosa como prova de seu envolvimento com o publicitário Marcos Valério Souza. O documento com a suposta assinatura de Azeredo refere-se ao recebimento de R$ 4,5 milhões da SMPB e da DNA Propaganda, empresas de Marcos Valério.
O publicitário é acusado de ser o principal fornecedor de recursos para o mensalão, no governo Lula. O valerioduto mineiro teria sido um esquema de tomada de empréstimos bancários para serem pagos com recursos desviados de estatais.
O ministro reagiu. "O que eu tinha a falar sobre isso eu já disse. Não há uma única palavra na defesa do acusado sobre o recibo de R$ 4,5 milhões. Esse recibo consta da denúncia e a defesa silenciou-se completamente sobre ele", disse Joaquim Barbosa, durante o intervalo da sessão de julgamento.
"O recibo é falso. Nunca foi assinado por mim. Ele tem aqui um erro grosseiro na falsificação, diz que a importância de R$ 4,5 milhões é para "saudar" compromissos, com a letra u, em vez da grafia correta", disse. Segundo Azeredo, o recibo teria sido forjado por Nilton Antonio Monteiro - um lobista ligado ao PT mineiro - e informou que, em 2007, entrou com uma ação na Polícia Civil de Minas Gerais contra Monteiro.
"É inacreditável que o ministro utilize um documento desses na peça acusatória", disse o tucano. "Não é possível que um recibo falso, que eu nunca assinei, tem erros grosseiros, seja trazido como prova material de meu relacionamento, de meu envolvimento."
Na tentativa de demonstrar que não tem ligações com Marcos Valério, o tucano lembrou que, durante as investigações da CPI dos Correios, foram detectadas apenas duas ligações suas para o publicitário, entre 2000 e 2005, depois da eleição de 1998, quando Azeredo não conseguiu ser reeleito e perdeu o governo de Minas para Itamar Franco (PPS). Ele não revelou o conteúdo de suas conversas com o publicitário.
"Apesar de todo respeito que tenho pelo Supremo, não posso deixar de dizer que estou surpreso. Reitero que não autorizei os patrocínios mencionados e não há documento que comprove isso."