Título: Países ricos falam em adiar para 2010 decisão sobre meta
Autor: Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2009, Vida&, p. A17

Para negociador chefe da UE, Copenhague pode não ser o ponto final do debate sobre redução de emissões

Quanto mais próximo da cúpula de Copenhague, mais distante o mundo parece estar de um acordo sobre como lidar com a questão das mudanças climáticas. Vários países desenvolvidos já falam em adiar a decisão para 2010. "Temos de ser flexíveis. Não podemos dizer que Copenhague é o ponto final", declarou ontem o negociador chefe da União Europeia, Artur Runge-Metzger. "A luta contra o aquecimento global não acaba em Copenhague."

A expectativa é que o encontro na Dinamarca, em dezembro, produzirá apenas um acordo político, sem metas compulsórias de redução de emissões - algo que seria definido mais adiante, em outra reunião realizada até um ano depois.

Em meio às discussões sobre o que ocorrerá de fato em Copenhague, o secretário executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, Yvo de Boer, ressaltou que a agenda de negociações prevê que as decisões sejam tomadas, sim, no próximo mês. "Copenhague não é apenas mais um passo um uma longa jornada", disse. "Se não tivermos clareza sobre as metas dos países desenvolvidos, então Copenhague terá fracassado."

Em Barcelona, onde diplomatas climáticos estão reunidos para a última rodada preparatória antes de Copenhague, as negociações estão estagnadas. Apesar de pequenos avanços em temas secundários, faltam as peças principais do jogo: as metas de redução de emissões dos países desenvolvidos para o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, que começa em 2013.

Nenhum dos grandes emissores quer se comprometer com um número antes de saber qual será a participação dos Estados Unidos. Isso só será possível após a votação dos projetos de lei que tramitam no Congresso americano, o que não deve ocorrer antes de 2010. Ontem, a Comissão de Meio Ambiente do Senado dos EUA aprovou corte de emissões de 20% até 2020, em relação aos níveis de 2005. Outro projeto que tramita no Congresso prevê uma redução ainda menor, de 17%.

"Não podemos condicionar a luta contra o aquecimento global às vontades do Congresso americano, que tem fortes ligações com a indústria de combustíveis fósseis", afirmou o coordenador político do Greenpeace, Martin Kaiser. "Agora é a hora de avançar, não de recuar", disse o diretor da Rede de Ação Climática na Europa, Matthias Duwe.

Para o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe da delegação brasileira em Barcelona, "é importante não perder a oportunidade de Copenhague". "Não queremos um acordo político, mas sim um acordo real, com metas quantificadas para os países desenvolvidos."

O repórter viajou a convite da organização da COP-15