Título: Tudo era assinado pelo presidente do órgão, diz Aguiar
Autor: Rangel, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2009, Nacional, p. A4

Ex-coordenador no Ceará afirma que não era responsável por aprovação de convênios

Procurados pelo Estado, os investigados na Operação Fumaça negam participação no desvio de verbas da Funasa. O deputado estadual Guaracy Aguiar disse não ter ideia da razão pela qual foi incluído na investigação. Ele afirma que, como coordenador da Funasa no Ceará, não era responsável pela aprovação dos convênios. "Tudo era assinado pelo presidente da Funasa", argumenta. "Quando estava no cargo, eu até reclamava porque era atropelado frequentemente por Brasília."

Indagado sobre a razão pela qual chancelava laudos de engenharia fraudados que abriam caminho para a Funasa pagar por obras inacabadas, Aguiar diz que não tinha condições de averiguar se os documentos eram ou não verdadeiros. "Como coordenador, eu tinha de confiar (nos engenheiros)." O deputado afirma ser normal a adoção de critérios políticos para liberação de recursos. "É ingênuo quem pensa que não é assim."

Aguiar diz não ver, em seu envolvimento na operação, nenhum constrangimento para o irmão Ubiratan Aguiar, presidente do TCU, cuja atribuição é justamente fiscalizar a aplicação das verbas federais.

"Ele nunca me ajudou em nada", afirma. Sobre os diálogos em que aparece tratando de dinheiro, ele apresenta uma explicação. "Era doação de campanha e não tinha nada a ver com a Funasa."

Aguiar foi indicado para o cargo pelo PMDB, partido que deixou há pouco mais de um mês para ingressar no PRB. "Minha indicação foi feita pelo líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)."

Procurado pelo Estado, o presidente da Funasa, Danilo Forte, disse por meio de assessores que "jamais trata ou tratou diretamente de liberação de verbas com engenheiros de campo". Forte afirmou que não conhece o lobista José Braga Rolim, que o cita nas conversas gravadas pela polícia. E fez questão de dizer que não figura entre os indiciados na operação.

O engenheiro da Funasa Ricardo Nunes, acusado pela PF de ser dono de fato de empreiteiras que executam convênios do órgão, disse não ver problema na contratação de empresas registradas em nome de seus familiares. "Eles são maiores de idade, têm empresas, e prestam serviços não só no Ceará como em outras partes do Brasil", declarou. Mauro Façanha, colega dele na Funasa, não foi localizado no escritório do órgão e não atendeu a ligações para seu telefone celular. O ex-prefeito de Brejo Santo Francisco Wider Landim não foi localizado em sua casa na tarde de sexta-feira.

ESCUTAS DA PF

Conversas deixam claro, na avaliação da PF, que a Funasa usava critérios políticos para liberar verbas 11 SETEMBRO Guaracy conversa com um homem identificado como Tomás e cobra o que chama de "santinho" Guaracy - Eu posso mandar o Alan pegar aquele negócio? Os ""santinho""?

Tomás - Guaracy, vamos marcar outro, pro dia 22, quando eu tenho dinheiro Guaracy - Rapaz, mas vai ficar em cima porque o pessoal dos outros municípios ""estão"" me aperreando e eu tava contando muito com aquilo Tomás - Certo, então eu vou... Guaracy - Vê se você dá um jeitinho pra chegar logo mais cedo, eu tava pensando até amanhã, porque eu vou final de semana aí pro interior Tomás - Pois tá bom, eu vou ver aqui e qualquer coisa eu lhe digo Guaracy - Pois veja aí. É o Alan que vai lhe procurar, viu? 18 SETEMBRO Guaracy diz, a um homem não identificado (HNI, na abreviação da Polícia Federal), que tem evitado falar ao telefone HNI - Guara? Guaracy - Hum HNI - Eu tô aqui na RPG e o Titico tá só me ligando, de novo. Ipueiras, sabe? Guaracy - Rapaz, Titico tu atende e diz: Titico, tu conhece o Guaracy. Ele não gosta de falar certas coisas por telefone. Se tu quiser, tu vai lá conversar com ele que ele te diz, mas por telefone ele não quer, esses telefones ""tão tudo grampeado"" HNI - Tá joia, tá joia 22 SETEMBRO Guaracy conversa com Germano Fonteles, funcionário da Funasa e reclama da liberação de dinheiro para prefeituras comandadas por aliados do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) Guaracy - A informação que eu recebi foi, da Casa Civil, que a Funasa ia liberar mais três municípios Germano - O ""ia"" é outra coisa, mas liberado não foi Guaracy - Da Funasa, tava liberando hoje, da Funasa Germano - Pois não foi liberado, não Guaracy - E o Danilo, o que que diz? Germano - Eu não falei com ele, não, porque não dá nem pra falar Guaracy - É bom tu pegar por outro telefone, saber se ele sabe dessa história aí. Agora a m. que foi que eu vim saber três municípios do Tasso. Eu digo p., que diabo é isso, rapaz? Guaracy - Eu recebi o telefonema e anotei no papelzinho, nem tinha me tocado direito, como não era nenhum município que tivesse um maior interesse assim pra mim... Aí depois eu fui ver que os três eram do Tasso, aí eu rasguei. Eu quero saber dessa p.? Aí eu rasguei o papel