Título: Candidato favorito em Honduras defende reforma da Constituição
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2009, Internacional, p. A23

'Pepe' é contra a reeleição, mas a favor de alterar a Carta, razão que causou a queda de Zelaya

Se a crise política em Honduras foi de fato iniciada pelo flerte do presidente deposto Manuel Zelaya com uma Assembleia Constituinte, as eleições de novembro podem não ser a solução definitiva para o problema, como quer a maioria dos hondurenhos, os EUA e parte da comunidade internacional.

O franco favorito na corrida presidencial, Porfírio "Pepe" Lobo, do Partido Nacional (PN), era um entusiasta da iniciativa de convocar uma consulta popular sobre o tema - a chamada "quarta urna". Desde o golpe de junho, porém, o líder com 59% das intenções de voto mantém-se em silêncio sobre uma eventual batalha constitucional.

Na última semana, o Estado perguntou a Pepe se ele insistirá numa consulta popular, caso seja eleito. Visivelmente incomodado, ele tentou se esquivar. "Veja, esse é um tema que desperta muito conflito. Zelaya e (o presidente de facto Roberto) Micheletti estão agora tentando uma solução para acabar com o drama hondurenho. Não é hora de falar em consultas", afirmou.

Sob insistência, Pepe admitiu que poderá convocar um "grande diálogo com todos os setores da sociedade hondurenha" para decidir se a Constituição de 1982 deve ser alterada.

Em maio, quando Zelaya tentava emplacar a consulta popular, Pepe era mais enfático. "Não é o momento de deixar as coisas como estão. Proponho que convoquemos uma Assembleia Constitucional, ou Constituinte, como alguns chamam, sem violar as leis atuais", dissera. "Temos uma nova esperança, vamos todos pela mudança já. Consulta sim, continuísmo não", disse ele na ocasião.

No entanto, uma nova Constituição, segundo Pepe, não deveria alterar o veto à reeleição. À época, o apoio do candidato do PN à quarta urna despertou furor entre os líderes da legenda de Zelaya, o Partido Liberal (PL), que já se encontrava dividido sobre a consulta. Elvin Santos, candidato à presidência pelo PL, que apoiou o golpe de 28 de junho, qualificou Pepe de "oportunista". Micheletti, então presidente do Congresso, também denunciou a iniciativa.

APOIO DISCRETO

Embora prometa boicotar a eleição do dia 29 se Zelaya não for restituído imediatamente, a Frente Nacional de Resistência (FNR) - grupo popular que encabeça a luta por uma nova Constituição hondurenha nos moldes bolivarianos - admite preferir Pepe a Santos como próximo presidente. "Digamos que com Pepe há mais abertura para o diálogo", explicou Rafael Alegria, um dos principais líderes da FNR. "Enquanto a direita atacou nossa proposta de constituinte, ele ficou quieto." Com ou sem Zelaya no poder, o tema da quarta urna voltará à pauta em 2010, garante Alegria.

Contra a vontade do Congresso, da Suprema Corte, do Exército, da Igreja, dos principais setores do empresariado e da maior parte da imprensa hondurenha, Zelaya tentou empurrar uma consulta popular sobre uma Assembleia Constituinte. A votação ocorreria juntamente com a eleição geral do dia 29.

Após a recusa do comandante das Forças Armadas, general Romeo Velásquez, em realizar a quarta urna (em Honduras, militares tem o papel constitucional de assegurar as eleições), Zelaya tentou destituí-lo. A ordem, porém, não teve efeito e, em meio à crise, militares invadiram a casa do então presidente e o colocaram, de pijamas, em um avião para a Costa Rica.