Título: Corregedor nega propina e colegas de TJ silenciam
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2009, Nacional, p. A9

Wider defendeu-se da acusação de venda de sentenças e alegou que "dezenas" de desembargadores frequentam casa de Raschkovsky

A sessão de ontem do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro foi marcada pelo silêncio. O corregedor-geral do TJ, desembargador Roberto Wider, defendeu-se da acusação de participar de suposto esquema de venda de sentenças judiciais alegando, entre outras coisas, que "dezenas" de colegas também são amigos e frequentam a casa do empresário e estudante de direito Eduardo Raschkovsky. Ele não citou nomes.

Segundo reportagem publicada no domingo pelo jornal O Globo, o empresário oferece a políticos, empresários e tabeliães facilidades em processos em troca de vantagens financeiras. Os valores das propinas variariam entre R$ 200 mil e R$ 10 milhões.

O jornal também afirma que o principal negócio seria o oferecimento de blindagem a políticos com problemas na Justiça na época em que Wider era presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) e liderava campanha pela impugnação das candidaturas dos chamados fichas-sujas.

"Conheci-o (Raschkovsky) através do colega desembargador, hoje aposentado, Antonio Lindbergh Montenegro, e desenvolvemos nossa amizade a partir de um prazer comum - apreciar bons vinhos - no que éramos partícipes de alguns grupos de apreciadores, dos quais estavam muitos dos colegas dessa Casa", afirmou o corregedor-geral do TJ. "Diria eu que dezenas de colegas frequentaram a casa do Eduardo."

Após o discurso, de cerca de 10 minutos, nenhum dos outros desembargadores presentes se manifestou em apoio ou em repúdio às declarações de Wider.

O desembargador disse que as denúncias são falsas e que o objetivo é tentar fazê-lo desistir de disputar a presidência do TJ, no próximo ano. Ele ainda informou que avisou previamente sobre a publicação da reportagem ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, e ao presidente do TJ, desembargador Luiz Zveiter.

SOB INVESTIGAÇÃO

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já pediu a Wider informações. Em ofício encaminhado ontem, o corregedor-geral do órgão, ministro Gilson Dipp, pede urgência no envio de dados detalhados sobre o caso.

No mesmo documento Dipp informa ao desembargador que o CNJ "promoverá as investigações disciplinares que o quadro recomenda". Em seu discurso, Wider também havia dito que iria pedir ao CNJ que apurasse o caso.

Outra frente de investigação deve ser aberta na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O deputado Paulo Ramos (PDT) informou que pretende protocolar ainda hoje o pedido para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as acusações contra o magistrado.

O pedetista acredita que não será difícil a tarefa de conseguir as 24 assinaturas necessárias do total de 70 parlamentares. "Tem vários deputados ligando querendo participar da CPI. Todos serão autores", disse Paulo Ramos. "É preciso investigar se houve prática de extorsão no processo eleitoral, através de tráfico de influência".

Raschkovsky confirmou que é amigo de Wider, mas negou as acusações. Ele repetiu o discurso do desembargador, afirmando que as denúncias têm origem no processo eleitoral interno do TJ. "Se ele contraria políticos, desagrada cartórios, eu não sei. Mas sei que é uma briga política", disse o empresário, que jantou anteontem com Wider. "Fazemos isso quase todo domingo. Ele é meu amigo. Mas quase não falamos sobre as denúncias."