Título: Só quero entrar na sala e estudar
Autor: Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2009, Vida&, p. A17

Cercada por sete advogados, pivô do caso nega que tenha "desfilado" ou levantado a saia e diz ter medo

Com maquiagem e cabelos impecáveis, vestida com blusa vermelha floral e calça jeans justa, Geisy Arruda participou ontem à tarde de uma entrevista coletiva no escritório de seus advogados. O evento foi marcado para anunciar o posicionamento dos advogados e da estudante sobre expulsão da aluna. A revogação da decisão da Uniban só foi divulgada na noite de ontem.

Cercada por sete advogados dentro de uma sala abafada e lotada de jornalistas, no centro de São Paulo, Geisy se emocionou ao falar sobre a humilhação que sofreu. Segundo a aluna, a nota da Uniban que anunciava a expulsão relatava o oposto do que ela teria dito sindicância. "É uma grande mentira que eu levantei a saia. Disse mais de 30 vezes que não levantei coisa alguma, mas preferiram acreditar neles (nos outros alunos)." Geisy nega que tenha desfilado na rampa da faculdade e diz que nunca foi orientada pela faculdade a mudar seu jeito de vestir. "Se um segurança ou professor tivesse me dito, eu humildemente voltaria para casa."

Ela afirma que quer voltar para a Uniban para concluir pelo menos o semestre e não perder o investimento que seu pai fez ao pagar as mensalidades. "Só quero entrar na sala, sentar, estudar e fazer as provas. Pretendo nem descer na hora do intervalo, fico só dentro da sala, se for esse o problema", disse, com olhos marejados. Mas quer trocar de faculdade em 2010 porque teme uma nova humilhação. "Tenho medo."

A estudante acha que sua vida profissional pode ser afetada pela exposição a que foi submetida. Ela conta que tem recebido manifestações de apoio e de repúdio quando sai de casa. "Alguns me chamam de coisas que eu não sou." O último fim de semana ela passou na praia, trancada em casa, sem telefone, TV e internet.

Apesar de o episódio ter afetado a rotina de sua família - sua mãe está tomando calmantes -, a aluna disse novamente que não vai mudar o jeito de se vestir. "Não sou a única menina que vai à faculdade de vestido."

Antes do recuo da Uniban, seus advogados haviam afirmado que entrariam hoje com uma medida cautelar para que Geisy terminasse o semestre.

O advogado Nehemias Melo se disse perplexo com o resultado da sindicância, que considerou "draconiana e exacerbada", rememorando os "tempos obscuros da ditadura". Ele também afirmou que é uma "leviandade" a sugestão de que estaria sendo pago por uma emissora de TV para defender Geisy.

Melo afirmou que entrou em contato com políticos para discutir o caso de Geisy. Durante a coletiva, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) telefonou para Geisy, interrompendo a entrevista. A estudante não comentou o teor da conversa, mas ontem o senador divulgou uma nota em que pedia que a Uniban repensasse a expulsão.

CONGRESSO

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e a deputada Angela Portela (PT-RR) apresentaram ontem, na Comissão de Educação, um requerimento para que a Câmara dos Deputados realize uma audiência pública sobre o caso.

A Fundação Procon-SP instaurou procedimento administrativo para averiguar a conduta da Uniban. A OAB-SP, a Força Sindical e a Associação dos Professores da PUC-SP também se posicionaram contra a decisão da Uniban de expulsar Geisy. COLABOROU SIMONE IWASSO