Título: Dólar tende a permanecer volátil
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2009, Economia, p. B3

Para o presidente do BC, a oscilação do dólar está ligada às expectativas de crescimento e às dúvidas sobre a recuperação dos EUA

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, indica que a volatilidade do dólar vai continuar e não há certezas se esse fenômeno, que é mundial, será superado nos próximos meses. Em entrevista ao Estado, ao final da reunião dos presidentes dos maiores bancos centrais do mundo, na Basileia, Meirelles confirmou que o Brasil terá um "crescimento forte" em 2010 e espera que a economia sinta menos que outras o impacto das mudanças no dólar. Meirelles não disse, porém, se o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) está dando resultado e insistiu que serão a resistência da economia brasileira e o crescimento baseado no mercado interno que servirão de amortecedor para a volatilidade da moeda americana.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Um dos riscos destacados pelos BCs na reunião da Basileia é que a volatilidade do dólar pode ser um obstáculo ao crescimento sustentável. O sr. acredita que essa tendência ainda vai se manter?

A volatilidade do dólar é resultado, em primeiro lugar, da antecipação dos mercados ao crescimento e recuperação americana, das incertezas associadas a essa recuperação e à alta liquidez da economia americana. Portanto, o dólar, de fato, tende a permanecer com certa volatilidade, não se sabendo se poderá haver uma diminuição nos próximos meses. Espera-se que essa volatilidade esteja restrita ao dólar.

E qual seria o impacto dessa volatilidade no Brasil?

Como no mundo todo, temos de conviver com a volatilidade do dólar pelos problemas da economia americana. No entanto, em primeiro lugar, insisto que espero que seja restrito ao dólar. E, segundo, como a economia brasileira está crescendo impulsionada pela demanda doméstica e pela capacidade do Brasil de comprar reservas e pela própria resistência econômica do Brasil, espero que o Brasil seja menos afetado que outros países. Nossa previsão é de um crescimento forte nos próximos anos.

A entrada de capitais estrangeiros é um problema ou pode ser uma vantagem no médio prazo?

Primeiro, existe uma entrada de capitais em vários países, resultado da liquidez da economia americana. Mesmo países que não fazem flutuação da moeda e têm taxas de juros muito baixas estão tendo entradas enormes de capital. A entrada de capital está muito relacionada com a perspectiva de crescimento de cada país. Existe um componente positivo, na medida em que o investimento vai permitir um crescimento, seja através de investimentos estrangeiros diretos, seja através da emissão de ações, ou mesmo de empresas tomando recursos no exterior por meio da emissão de títulos. Num quadro como esse, existe sempre o risco de exageros que as autoridades de todos os países estão monitorando cuidadosamente.

Mas o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) funcionou e cumpriu já sua função?

Vamos aguardar. Estamos todos aguardando e monitorando com cuidado para fazer uma avaliação mais adequada.

Com essa volatilidade, há risco de aumento de importações e até de desindustrialização?

A economia brasileira está com perspectivas de alto crescimento, a indústria está crescendo há nove meses consecutivos. Já crescia antes da crise e as perspectivas são de um crescimento continuado da indústria brasileira.

Quando os spreads bancários vão de fato cair?

Os spreads estão caindo de forma gradual há vários meses e acredito ser essa a tendência de longo prazo.