Título: EUA exigem respeito a pacto em Honduras
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2009, Internacional, p. A17

Casa Branca defende importância da formação de governo de unidade

"Decepcionados" com a interrupção da formação do governo de unidade em Honduras, os EUA conclamaram zelaystas e partidários do presidente de facto, Roberto Micheletti, a voltar à mesa de negociações "imediatamente". "O acordo ressaltava a importância da formação de um governo de unidade e reconciliação nacional", disse Ian Kelly, porta-voz do Departamento de Estado. "Por isso, estamos decepcionados com as declarações unilaterais feitas pelos dois lados, que não são adequadas ao espírito do Acordo de Tegucigalpa-San José."

O processo de reconciliação hondurenho havia sido reiniciado na semana passada, sob forte pressão dos EUA, mas o prazo para a formação de um governo de unidade expirou ontem à zero hora. Pouco depois, o presidente deposto, Manuel Zelaya, decretou o fracasso do pacto em um comunicado. Micheletti adiou para a próxima semana a constituição do governo de união "sem membros designados por Zelaya" e presidido por ele mesmo. O Departamento de Estado ressaltou que os dois lados precisam trabalhar "juntos" para formar o governo. Mas, nos bastidores, o governo americano deixa claro que apoiará as eleições do dia 29, independentemente da volta de Zelaya.

A Casa Branca ressalta que o acordo determina que o Congresso decida como, quando e se Zelaya será restituído. "Instaurar um governo de unidade unilateralmente não estava previsto", disse uma fonte do governo americano ao Estado.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, também criticou a interrupção das negociações. "As medidas previstas no acordo foram aceitas por ambas as partes. Espero que sejam cumpridas sem mais subterfúgios", afirmou.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, pediu ontem que os EUA tenham sensibilidade para perceber que a "totalidade da América Latina e do Caribe exige a restituição de Zelaya" como condição indispensável para reconhecer as eleições do dia 29. "Temos só mais alguns dias para salvar a democracia de Honduras", afirmou Amorim ao Estado, de Kingston, na Jamaica. "Isso dependerá dos EUA. Para além do que Zelaya tenha feito, não interessa uma divisão do hemisfério, com os EUA de um lado e a América Latina de outro."