Título: Investidor estrangeiro aposta em retomada rápida dos IPOs no Brasil
Autor: Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2009, Economia, p. B14

Pesquisa mostra que País deve ser o segundo a atrair mais investimentos em aberturas de capital, atrás da China

O otimismo internacional em torno do Brasil chegou ao mercado de IPOs (sigla em inglês para ofertas públicas iniciais de ações). Uma pesquisa feita pela consultoria Ernest & Young mostra que investidores do mundo todo acreditam que o País será um dos primeiros a retomar os processos de abertura de capital. Dos cerca de 300 entrevistados, que incluem representantes de bancos, fundos de pensão e private equity e gestoras de recursos, 57% apostam que novas operações devem ocorrer no País ainda este ano. O otimismo dos investidores só é maior em relação à China, onde 75% estimam que a retomada ocorrerá neste período.

A expectativa positiva dos investidores globais se concentra nos países emergentes, com exceção da Rússia. Segundo a pesquisa, a maioria deles avalia que em mercados como os dos Estados Unidos, México, Reino Unido e Austrália, a recuperação dos IPOs se dará somente em 2010. Boa parte deles prevê que esses países só retomarão o movimento no final de 2011. No caso do Brasil, apenas 7% dos entrevistados apostaram nesse cenário, mais pessimista. A pesquisa incluiu agentes financeiros de 34 países, que têm sob sua gestão ativos de cerca de US$ 20 bilhões.

"Os compradores de ações estão acreditando que o Brasil é a bola da vez", diz Paulo Sérgio Dortas, sócio da área de IPOs da Ernest & Young, que coordenou o trabalho no País. Mais que apenas apostar em uma recuperação, os investidores afirmam querer participar dela. De acordo com o estudo, 60% dos entrevistados dizem que pretendem aumentar o nível de investimentos nos IPOs de empresas brasileiras nos próximos 18 meses.

De novo, a China é a única a superar o Brasil no radar dos investidores, com 67% das intenções. Em seguida, vêm Japão, com 57%, e Estados Unidos, com 56%. Para Dortas, o bom humor dos investidores com o País decorre de três fatores. O primeiro é a perspectiva de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. Depois, o avanço nas questões de governança corporativa das empresas e da bolsa brasileiras. "Por fim, há o charme de estar inserido no contexto dos países emergentes", diz.

A pesquisa também mostrou os setores cujas empresas, na visão dos investidores, devem liderar o retorno dos IPOs. As companhias de tecnologia receberam 49% das indicações. As de serviços financeiros (43%), petróleo e gás (38%), mineração (35%) e bens de consumo e varejo (32%) vieram logo atrás. No Brasil, terão vez primeiro as empresas maiores - chamadas "large caps". Pelo menos 41% dos investidores disseram acreditar que elas se tornarão públicas primeiro. As com valor de mercado médio e pequeno são a aposta de 38% e 18% dos entrevistados, respectivamente.

NOVO TEMPO

Apesar das últimas operações na bolsa brasileira - os mega IPOs de Santander e Visanet, por exemplo - terem confirmado essa intenção, o sócio da Ernest & Young acredita que há espaço para negócios menores. Segundo Dortas, a empresa recebeu consultas de pelo menos 20 "mid caps" interessadas em abrir capital nos últimos meses. O segundo IPO do ano na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi de uma dessas companhias. A Tivit, de tecnologia, captou R$ 660,7 milhões em sua oferta, em setembro. (leia texto acima)

Após a crise e a euforia experimentadas no passado recente - foram 64 IPOs no Brasil somente em 2007 -, porém, as empresas serão mais exigidas. Muitas das empresas que perderam muito de seu valor de mercado logo após a abertura e não entregaram o que foi prometido se prepararam pouco para o processo, avalia Dortas. "Houve muito oba-oba. Agora, os compradores vão exigir o dever de casa bem feito", diz.

Um sinal disso foi mostrado na pesquisa deste ano: a qualidade da estratégia corporativa e sua execução foi o segundo fator mais considerado pelos entrevistados em suas próximas decisões de investimento, com 73% das indicações. Credibilidade e experiência dos diretores da empresa são o aspecto mais considerado pelos investidores da pesquisa, com 90%. Critérios como posição de mercado, inovação e qualidade da relação com os investidores vieram depois.