Título: Embaixador iraniano rebate sionistas
Autor: Marin, Denise Chrispim ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2009, Nacional, p. A6

Shaterzadeh chamou Israel de "país com um regime criminoso" A resistência no Brasil à visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejah, marcada para o dia 23, não vem de grupos judeus, mas de "sionistas". A avaliação foi feita ontem pelo embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, acompanhada de uma série de ataques verbais ao Estado de Israel. Shaterzadeh chamou Israel de "país com um regime sionista criminoso, invasor, de medo, que não se acalma dentro de si mesmo e que está perdendo seus amigos".

A retórica de Shaterzadeh não diferiu muito de seus discursos anteriores à imprensa contra o governo israelense. Mas, desta vez, deu-se em uma entrevista convocada especialmente para a mesma manhã em que o presidente de Israel, Shimon Peres, desembarcava no Brasil para a primeira visita de Estado em 43 anos.

"Não estamos contra (a visita de Peres) nem desapontados. O governo brasileiro tem o direito de ordenar o seu relacionamento externo", afirmou, ao ser questionado se esse evento o incomodava. "Hoje em dia, o Brasil é forte, independente e não permite a intervenção de outro país em sua política", completou, ao ser questionado sobre a opinião de Peres, de que é um erro o Brasil receber Ahmadinejah.

O embaixador iraniano insistiu que a visita de Ahmadinejad ao Brasil marcará o primeiro encontro bilateral entre governantes dos dois países nos últimos 50 anos. Em seu ponto de vista, essa reunião ganhará maior relevância por se dar em um momento em que "o mundo assiste à morte do multilateralismo e o nascimento de novas potências emergentes".

Para Shaterzadeh, trata-se de uma oportunidade para elevar a cooperação entre os dois países em 15 áreas - cuidadosamente, a nuclear não foi mencionada - e estimular uma atuação mais afinada em temas relativos à governança global, como a reforma das Nações Unidas. Em curto prazo, ele reconheceu que a presença do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2010 e 2011, como membro não-permanente, dará chance para uma cooperação "muito boa".

Porém, esquivou-se de mencionar que o mesmo Conselho Segurança poderá vir a votar novas sanções contra o Irã, caso o acordo na área nuclear negociado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não venha a ser referendado por Teerã. Nesse contexto, a posição, a articulação e o voto do Brasil terão importância especial para o Irã.

Questionado sobre a decisão do governo iraniano sobre esse acordo, Shaterzadeh novamente desconversou. Apenas informou que, para o Irã, é importante chegar a um consenso com a AIEA para que o reator atômico do país continue a funcionar para fins pacíficos.