Título: Adiamento é vergonha para universidade, dizem professores
Autor: Cafardo, Renata ; Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2009, Vida&, p. A19

Para docentes, episódio mostra dificuldades em lidar com conflitos

Tamanho do texto? A A A A O cancelamento da eleição e a transferência do processo para fora do câmpus demonstram a incapacidade da reitora Suely Vilela em lidar com os conflitos que cresceram na instituição, criando uma situação embaraçosa para a universidade, avaliam professores da USP ouvidos pelo Estado.

"É uma vergonha", afirma o professor do Instituto de Matemática e Estatística Sérgio Oliva. "É vergonhoso que poucas pessoas que não fazem parte da comunidade façam a universidade se subjugar assim."

Celso de Barros Gomes, professor titular do Instituto de Geociências, também destaca o fato de pessoas sem vínculo com a universidade terem impedido a eleição. "A situação foi criada por pessoas totalmente desvinculadas da universidade, recrutadas pelo sindicato para ficarem na porta da reitoria", afirma.

Para ele, medidas mais efetivas deveriam ter sido adotadas pela reitora. "É mais um episódio de uma história que está se repetindo nesta última gestão e demonstra que as coisas não foram equacionadas", analisa.

Na opinião de Elisabeth Balbachevsky, do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (Nupp), a universidade não consegue lidar com um movimento sem representatividade. "É uma minoria fascista. É lamentável que a universidade não tenha condições de fazer frente a este tipo de coisa", afirma a pesquisadora.

USO DA FORÇA

Para José Álvaro Moisés, diretor do Nupp, a falta de diálogo está no cerne dos problemas.

"Há uma politização e ideologização equivocadas e a falta de debate faz com que se enverede pelo uso da força", avalia Moisés.

CRISES NA USP

2000: O movimento de professores, funcionários e alunos da USP durou 52 dias. A reitoria foi interditada pelos grevistas e o reitor Jacques Marcovitch dormiu no sofá porque foi impedido de deixar o prédio. Em maio, cerca de 200 estudantes moradores do Crusp invadiram e saquearam o restaurante da USP durante a madrugada. Eles arrombaram os cadeados, levaram alimentos estocados e beberam oito garrafões de vinho. O restaurante estava fechado por causa de uma greve de funcionários

2001: Protesto de cerca de 200 estudantes impediu votação da regulamentação das fundações. Eles formaram um cordão humano na entrada da reitoria. A porta só foi aberta quando o reitor Jacques Marcovitch informou que retiraria o tema da votação

2002: Alunos do curso de Letras se recusaram a frequentar aulas e reclamaram da falta de professores e de estrutura da unidade. Funcionários aderiram à paralisação. A greve durou 104 dias

2004: Professores e funcionários pararam por 63 dias por reajuste salarial. Unesp e Unicamp também aderiram. A reitoria da Unesp, na capital, foi invadida e houve confronto com a polícia

2005: Sindicato dos professores entrou na Justiça para tentar barrar eleição para reitor. A universidade ganhou prazo de 72 horas para dar explicações e conseguiu realizar o processo sob protestos

2005: Movimentos pediam a revogação do veto do então governador Geraldo Alckmin ao aumento de verbas para educação no Estado. Grevistas invadiram a Assembleia Legislativa

2007: Estudantes e funcionários invadiram a reitoria, onde permaneceram por 50 dias. O principal motivo do protesto foi um conjunto de decretos do governador José Serra. Na saída da reitoria, estudantes jogaram água na imprensa com mangueira dos bombeiros

2009: No dia 5 de maio, funcionários decretaram greve. Alunos invadiram a reitoria 20 dias depois - ficaram no local por 4 horas. Dois dias depois, funcionários bloquearam a entrada da reitoria e de outros seis prédios. Em 1ºde junho, policiais entraram no câmpus e liberaram a entrada. No dia seguinte, funcionários retomaram o bloqueio e a policia retornou. Estudantes entraram em confronto com policiais