Título: Brasil está na direção certa
Autor: Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2009, Economia, p. B17

Marco Tronchetti Provera: presidente mundial do Grupo Pirelli; empresa vai investir mais US$ 100 milhões na área de pneus para veículos usados nos setores de infraestrutura e agrícola

A agenda do italiano Marco Tronchetti Provera, presidente mundial da Pirelli, é um bom medidor do entusiasmo da fabricante de pneus com o mercado brasileiro. Nos últimos quatro meses, ele esteve no País duas vezes. Em julho, anunciou um investimento de US$ 200 milhões na operação da Pirelli no Brasil, para os próximos dois anos. Nesta semana, o executivo veio ao País com missão quase idêntica. Anunciou ontem, em evento na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o novo investimento da companhia no Brasil: mais US$ 100 milhões na pesquisa e ampliação da produção de pneus para veículos pesados, usados nos setores de construção civil, mineração e agrícola. Com isso, o plano de investimentos da Pirelli no Brasil chega a US$ 400 milhões em um período de quatro anos (2008-2011).

Um dos homens mais ricos e poderosos da Itália, Provera ganhou mais notoriedade há alguns anos ao ser envolvido em um dos maiores escândalos de espionagem da Itália. À época, ele era também o presidente da Telecom Italia, a maior operadora de telefonia do país, que era controlada pela Pirelli. Provera sempre negou o envolvimento no caso, que teve ramificações também no Brasil, envolvendo principalmente o banqueiro Daniel Dantas, que era um dos sócios da Telecom Italia na Brasil Telecom. O executivo deixou o comando da Telecom Italia em 2006, e em 2007 a Pirelli saiu da empresa de telefonia.

Desde então, a Pirelli voltou a ser o foco para Provera. E o Brasil tem ganho uma importância cada vez maior nos planos de expansão do grupo. Em entrevista ao Estado na noite de segunda-feira, ele falou sobre os negócios da empresa no País. O mercado nacional é responsável por 60% do faturamento da Pirelli na América Latina, que, por sua vez, respondeu por um terço das vendas globais do grupo em 2008. "Nós crescemos com o Brasil", afirma Provera, que acredita que os resultados deste ano no País podem aumentar a fatia brasileiro no faturamento mundial do grupo. Com o novo investimento, localizado na fábrica da Pirelli em Santo André (SP), a expectativa é aumentar em 40% a produção de pneus especializados até 2012. O grupo também pretende retomar a exportação desses produtos em 2011, a partir do Brasil - isso contando com uma expectativa de crescimento de 7,5% no setor nos próximos três anos, em todo o mundo.

Por que ampliar o investimento no Brasil nessa área?

Vemos um potencial de crescimento maior no Brasil. Já temos um grande centro em Milão, mas para esse tipo de pneus - destinados ao setor agrícola e de infraestrutura - vamos estabelecer um polo tecnológico no Brasil, porque acreditamos que o maior crescimento virá daqui.

É um dos maiores investimentos da Pirelli este ano?

Sim. É um País onde somos número um, onde temos mais de um terço de participação de mercado em todos os segmentos. Nós crescemos com o Brasil. Acreditamos que o País estabilizou suas contas, tem boas políticas, enfim, está caminhando na direção certa. Além disso, o setor privado não parou de investir. Para a Pirelli, não é mais o País do futuro. O futuro já está aqui.

Vocês chegaram a sentir os efeitos da crise global no Brasil?

Pode-se dizer que o País foi afetado no final do ano passado e início deste. Tivemos de rebalancear nossas vendas, já que alguns segmentos sofreram mais que outros. A área de pneus para caminhões, por exemplo, ainda permanece um pouco deprimida e se recupera mais devagar, ao contrário do segmento de veículos, que cresceu e vai continuar crescendo ao longo de 2010. De forma geral, o mercado cresce desde março. No último trimestre, chegou a um nível incrível. O País fez o movimento certo para suportar a economia.

Quais suas projeções para este ano que está terminando e 2010?

Neste ano, estimamos que o crescimento no mercado brasileiro pode ficar entre 6% e 8%. Para o próximo, as projeções indicam que a expansão pode ser mantida acima de 5%.

A empresa vai fornecer pneus para as equipes de Fórmula 1, com a saída da Bridgestone?

Continuamos a fazer parte e apoiar atividades esportivas, mas não temos planos para entrar na Fórmula 1.