Título: Valério preparou planilhas do mensalão mineiro, diz lobista
Autor: Rangel, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2009, Nacional, p. A6

Plano seria "emparedar PSDB" quando escândalo petista estourou em 2005

O lobista Nilton Monteiro afirmou ao Estado que o empresário Marcos Valério participou pessoalmente da elaboração das planilhas de caixa 2 que deram origem à investigação do chamado mensalão mineiro. Monteiro é o responsável por abastecer a Polícia Federal e o Ministério Público com documentos que levaram à denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) por participar do esquema.

Segundo ele, as planilhas, com detalhes de repasses de dinheiro a políticos aliados durante a campanha de Azeredo ao governo de Minas, em 1998, foram preparadas em 2005, logo depois de estourar o mensalão do PT. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, nega a acusação. "Qualquer coisa que venha desse senhor eu vou dizer que não é verdade", disse.

Monteiro explicou que a ideia de fazer a lista partiu de Marcos Valério e de Cláudio Mourão, ex-tesoureiro de campanha de Azeredo, e tinha dois objetivos: Mourão queria usar os papeis para cobrar de Azeredo uma dívida remanescente da campanha, e Marcos Valério, por sua vez, tentaria emparedar o PSDB com as provas de que, bem antes de atuar para o PT, havia prestado os mesmos serviços aos tucanos mineiros. "Marcos Valério queria fazer com que o PSDB parasse com as acusações contra ele, por causa do mensalão petista", disse.

Para preparar os relatórios, destacou o lobista, Mourão e Valério recuperaram toda a memória do caixa 2 da campanha de 1998. O plano inicial, explicou, era utilizar os documentos só nos bastidores. Conhecido personagem do submundo dos dossiês, Monteiro afirmou que foi convidado por Valério e Mourão para apresentar os papeis ao PSDB e tentar um acordo. "Eu fui chamado para ser o negociador." Pelas mãos do próprio lobista, os documentos foram parar, depois, na PF e no Ministério Público.

DENÚNCIA

A lista, acompanhada de recibos e documentos bancários, detalhava a origem e o destino de R$ 100 milhões que teriam sido utilizados para irrigar a campanha de Azeredo. Parte do dinheiro tinha origem em estatais de Minas.

Iniciada a partir dos documentos, a investigação descobriu que parte do caixa 2 foi movimentada por agências de publicidade de Marcos Valério, a DNA e a SMP&B, num esquema que, pela semelhança de procedimentos e personagens, ficou conhecido como o embrião do mensalão do PT.

Em novembro de 2007, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, denunciou Azeredo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato e lavagem de dinheiro. A denúncia começou a ser apreciada na semana passada pelo plenário do STF. O relator do caso, o ministro Joaquim Barbosa, votou a favor da abertura de ação penal contra Azeredo. O julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro José Antonio Dias Toffoli, recém-chegado à corte.

Em sua defesa, o senador Azeredo acusou o ministro relator do caso de ter incluído nos autos um documento falso. Trata-se de um recibo supostamente assinado pelo tucano, atestando o recebimento de R$ 4,5 milhões das agências DNA e SMP&B. O senador diz que o documento foi montado por Nilton Monteiro. Em resposta, o lobista protocolou anteontem no Supremo uma queixa-crime contra o senador. "Eu desafio o senador a provar que o documento é falso. Se ele provar isso, eu engulo o recibo", afirmou.

Monteiro, que ficou conhecido por denunciar o mensalão mineiro, submergiu após o escândalo e voltou à cena no primeiro semestre deste ano. Em maio, o Estado mostrou que ele havia retornado a Brasília, desta vez com novos documentos sobre a também polêmica lista de Furnas, que atestaria repasses de dinheiro da estatal a políticos do PSDB e do DEM. Por trás da iniciativa do lobista estavam políticos do PT. Meses antes, Monteiro fizera contato com petistas, incluindo o ex-ministro José Dirceu.