Título: Fazenda pressiona por saída de Torós
Autor: Fernandes, Adriana ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2009, Economia, p. B6

Fontes do Ministério dizem que diretor do BC vazou informações estratégicas usadas para enfrentar crise econômica

A situação do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Mário Tóros, ficou insustentável no governo depois que o dirigente da instituição revelou detalhes da estratégia de atuação do governo para enfrentar os efeitos da crise internacional no sistema financeiro nacional. Pressionado internamente no BC, o diretor entrou também na mira da cúpula do Ministério da Fazenda.

Segundo fontes próximas ao ministro Guido Mantega, Torós teria vazado, em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada na última sexta-feira, informações estratégicas sobre o arsenal do BC mobilizado para enfrentar a crise econômica.

Fora do governo, fontes do Ministério Público ouvidas pelo Estado informaram ontem que o diretor poderá ser alvo de uma ação para investigar a eventual quebra de sigilo. Na reportagem, está relatado um episódio que mostra que um diretor do BC deu ao então presidente do Banco do Brasil, Antônio Lima Neto, informações sobre o estado financeiro do Banco Votorantim.

Lima Neto, segundo a reportagem, pediu ao interlocutor do BC que a informação não fosse divulgada. "Não espalha essa história do Votorantim", teria pedido o presidente do BB ao diretor do BC. Dois meses depois da conversa, o banco federal adquiriu metade do Votorantim por R$ 4,2 bilhões.

A assessoria do BC, no entanto, confirmou que o diretor tem hoje compromisso público marcado em seminário no Rio de Janeiro, onde vai representar o banco. Segundo o órgão, Torós não estava disponível ontem para comentar o assunto.

O ministro da Fazenda, segundo fontes, teria ficado particularmente irritado com as acusações de Tóros de que ele, Mantega, teria causado sérios prejuízos ao declarar, em entrevista coletiva, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia proibido o BC de usar das reservas para ajudar a acalmar o mercado.

Segundo a Fazenda, nesse mesmo dia, o ministro deu uma entrevista defendendo a utilização "de forma inteligente" as reservas internacionais. Na entrevista, concedida na ocasião ao lado do presidente do BC, Henrique Meirelles, Mantega informou também que o governo iria disponibilizar parte das reservas para bancos financiarem o comércio exterior.

O diretor do BC também enfrenta problemas com o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro, o chamado conselhinho, um tribunal administrativo no âmbito da Fazenda. O processo de Torós diz respeito às operações do Santander na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos pregões dos dias 28 de abril e 27 de junho de 2000.

Nesses dois dias, o banco espanhol teria realizado grandes operações que geraram "sensível queda" no principal índice do mercado paulista, o Ibovespa. A operação, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), teria beneficiado financeiramente o banco. Em julho de 2004, a CVM multou o Santander em R$ 500 mil e a subsidiária Santander Noroeste em R$ 100 mil pelas operações.

Torós, que era vice-presidente de Tesouraria e Mercados do Santander Banespa na época da operação, foi absolvido no caso. Agora, irá para o "conselhinho", instância superior à CVM.

O relatório que livrou Torós de qualquer responsabilidade dizia que "a despeito de ser identificado como responsável pela área de investimento do Santander, não foi trazida a julgamento qualquer prova de sua participação direta nas operações".