Título: Canonização de João Paulo II levará anos
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2009, Vida&, p. A19

João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005. No dia seguinte, na Praça de São Pedro, a multidão clamou: "Santo já!". Antes que um processo de beatificação seja aberto, a regra canônica impõe prazo de cinco anos. Mas João Paulo II já havia infringido essa regra em favor de Madre Teresa de Calcutá. Bento XVI decidiu seguir seu exemplo e os trâmites começaram em 28 de junho de 2005.

Anteontem, concluiu-se uma etapa crucial. A Comissão da Congregação dos Santos, encarregada de se pronunciar a respeito das "virtudes heroicas" de João Paulo II, votou. Foi divulgado que a comissão dera resposta definitiva e unânime. A votação havia sido precedida por uma pesquisa (chamada "positio") dirigida pelo "postulador", Monsenhor Slawomir Oder, um polonês.

A "positio" é um relatório de 5 mil páginas que percorreu a vida de João Paulo II. Agora, o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, poderá apresentar a causa a Bento XVI até o Natal, pedindo-lhe que publique o decreto reconhecendo as "virtudes heroicas de João Paulo II". Ele o fará, sabendo de antemão o resultado. Entretanto, essa etapa não é sempre uma formalidade. Por exemplo, o processo de beatificação de Pio XII foi interrompido nesse estágio, por Bento XVI, por causa das polêmicas a respeito de seu comportamento diante do Holocausto. Mas, no caso de João Paulo II, é impossível ver o "grão de areia" que poderia emperrar a tramitação.

Alguns desejariam celebrar a beatificação em 2 de abril de 2010, o quinto aniversário da morte de João Paulo II. Mas o dossiê não estará concluído. E o Vaticano deve se conceder o tempo suficiente para preparar a chegada de centenas de milhares de peregrinos a Roma. Foi apresentada outra data: 17 de outubro, simbólica porque a eleição de João Paulo II ocorreu no dia 16 de outubro de 1978.

A escolha não poderia ser mais adequada, porque nesse dia haverá um sínodo para o Oriente Médio com a presença de Bento XVI e de cardeais, bispos e patriarcas dessa região, objeto de tantas preocupações por parte de João Paulo II.

Para proceder à beatificação, é necessário o reconhecimento de um milagre. Entre várias hipóteses, Roma escolheu a da religiosa francesa Irmã Marie Simon Pierre, da congregação das Irmãzinhas das Maternidades Católicas, que foi curada do mal de Parkinson. "Minhas irmãs de todas as comunidades oraram pela intercessão de João Paulo II. Dois meses depois da morte do papa, às 4h30, acordei maravilhada. Meu corpo não estava mais dolorido." Um neurologista examinou a irmã: os sinais da doença haviam desaparecido.

Para a canonização, será preciso que outro "milagre" ocorra após a beatificação. A partir daí, o processo continuará por anos.