Título: Uma revolução silenciosa na favela
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2009, Economia, p. B4

Presidente do Bradesco comemora primeira agência em Heliópolis

André Bellino é um típico gerente de agência do Bradesco. Terno simples e bem cortado, gel no cabelo, anos de carreira no banco e alegria pela posição que ocupa. Ontem, porém, exalava uma mescla de euforia e nervosismo.

Também pudera. A agência que comanda, a primeira de uma instituição financeira na maior favela de São Paulo (Heliópolis), recebia altos executivos da organização, um coral formado por crianças da comunidade e um padre incumbido de uma bênção especial. Todos estavam lá para a festa de inauguração da agência, que já funcionava em regime de teste havia 30 dias. "Estou muito, muito feliz", disse.

Nesse período experimental, a agência de Heliópolis abriu 300 contas de pessoas físicas, 110 contas poupança e 30 contas de empresas. "Está tudo dentro do esperado."

São clientes como a faturista Silvânia Costa, de 38 anos. Ela foi uma das poucas pessoas que ignoraram a movimentação diferente e se dirigiu a uma das mesas de gerência para abrir uma conta. "É uma poupança. Vou aproveitar a restituição de Imposto de Renda e o 13º salário."

Ela considerou "excelente" a iniciativa do Bradesco de abrir uma agência na Estrada das Lágrimas, em pleno coração de Heliópolis. "Precisava de uma agência por aqui", disse. Apesar do elogio, não deixou de fazer uma crítica. "Está faltando divulgação, principalmente, entre as empresas. No começo, passávamos por aqui e estava sempre vazio. Agora até que tem mais gente."

A agência de Heliópolis está inserida na estratégia de inclusão bancária, bandeira não só do Bradesco, mas de todos os bancos de varejo que atuam no País. "Quando os pobres se transformam em consumidores, a gente passa a ter uma revolução silenciosa", afirmou o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, uma das pessoas mais celebradas do evento, ao lado do presidente do Conselho de Administração, Lázaro de Mello Brandão.

"O pobre sem consumo estrangula a expectativa de vida, a esperança e o desejo de progresso que as pessoas possam ter", disse.

A cerimônia teve direito a corte de fita vermelha na porta, retirada de pano também vermelho de uma placa, Hino Nacional cantado pelas crianças e aspersão de água benta pelo padre Paulo - que, em seu discurso, fez questão de instar o banco a conceder crédito para a comunidade carente.

As pessoas que ali passaram certamente estranharam o movimento na altura do número 1.900. Carrões pretos, homens de terno e gravata, fotógrafos e cinegrafistas compunham a "paisagem". Isso sem falar do aparato de segurança ainda mais pesado que o normal.

Do lado de dentro, os subordinados de Bellino tentavam manter a agência funcionando. Conseguiram. A porta giratória, por exemplo, apitava sempre que alguém tentava entrar com um objeto metálico. Exerceu tão bem a função que acabou desligada.