Título: Amil paga R$ 612 milhões pelo controle da Medial
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2009, Economia, p. B14

Com a operação, Amil ultrapassa a Bradesco Saúde e se torna a maior do País no setor

Se existisse um ranking, a compra da Medial pela Amil, anunciada ontem, estaria no topo das operações fechadas em menos tempo. Em 48 horas, os executivos da Amil se reuniram, formularam a proposta, apresentaram aos controladores da Medial e, finalmente, fecharam o negócio na manhã de quinta-feira. A Amil vai pagar R$ 612 milhões pelo controle da Medial (52% do capital total) e pode desembolsar até R$ 1,2 bilhão para ficar com 100% de uma de uma de suas maiores concorrentes. Com a aquisição, a companhia ultrapassa a Bradesco Saúde e assume a liderança no mercado de planos médico-hospitalares no País.

A operação só foi fechada às pressas porque a Amil foi surpreendida por um boato de que o Bradesco estaria interessado em levar a Medial, segundo fontes próximas à companhia. Como a disputa nesse setor está acirrada - há um mês, o Bradesco se associou à Odontoprev, de planos odontológicos - e o crescimento depende muito de aquisições, a Amil não quis perder tempo. Para fechar o negócio, as duas empresas nem recorreram a bancos de investimento.

A Medial foi alvo de boatos durante todo o ano, mas seus donos sempre negaram interesse em vender. O que alimentou os rumores foram os fracos resultados financeiros dos últimos trimestres, a troca de presidentes em curto espaço de tempo - no fim de outubro, Emílio Carazzai, que havia assumido há pouco mais de um ano, foi substituído por Henning Von Koss, vindo da Bayer - , a contratação da consultoria Galeazzi e Associados e controladores sexagenários, já demonstrando outros interesses. A Medial foi fundada há 45 anos por um grupo de quatro médicos: Samir José Kalil, Geraldo Rocha Mello, David Schapira e Fernando Pires Rocha. Os dois primeiros continuavam no Conselho. Os dois últimos já haviam morrido e seus familiares ainda eram acionistas.

A proposta da Amil agradou os controladores da Medial e ajudou o negócio a ser fechado mais rápido. A empresa pagou um prêmio de 17% em relação à cotação dos papéis no fechamento da Bolsa na quarta-feira (R$ 14,70). A Amil se propôs a pagar 20% do valor em até três dias úteis da assinatura do contrato. O restante será pago à vista na data de fechamento. Os recursos usados na operação virão do caixa da Amil.

Segundo comunicado divulgado pela Amil, após a aquisição, a participação de mercado da companhia em São Paulo, o principal mercado do País, passará de 7,9% para 15,1%. No Brasil, vai sair de 6,2% para 10,1%, com um total de 4,2 milhões de beneficiários em planos de saúde e 986 mil beneficiários em planos dentais. Em setembro de 2008 (veja quadro), o número de beneficiários de planos de saúde das duas empresas juntas somava 3,7 milhões. O Bradesco tinha 3,2 milhões.

EMPRESÁRIO POR ACASO

A Amil é um caso de sucesso no setor. Seu fundador, o médico Edson Bueno, construiu seu negócio do zero, em 1972. Filho de uma dona de casa e de um caminhoneiro, o empresário, hoje um dos homens mais ricos do Brasil, chegou a engraxar sapatos na infância para ajudar nas contas de casa.

Bueno virou empresário por acaso. Depois de receber vários calotes em seu salário de médico no Hospital São José, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, pediu que o pagamento fosse feito em cotas de participação no capital da empresa. Ali nasceu o embrião do que se transformaria na Amil, uma potência com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo, faturamento de R$ 4,4 bilhões no ano passado, capitalizada e lucrativa.

A Amil tem a maior rede credenciada do País, com 2,9 mil hospitais, 44 mil consultórios e clínicas médicas e 7,1 mil laboratórios e centros de diagnóstico. A Medial, por sua vez, é dona de uma forte rede própria. São 10 hospitais, 48 centros médicos e 61 unidades laboratoriais. Seu faturamento em 2008 foi de R$ 1,9 bilhão.