Título: Deputados italianos chegaram a parar sessão durante julgamento do STF
Autor: Rosa, Vera ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2009, Nacional, p. A6

O julgamento de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF) mobilizou a tal ponto os políticos italianos que, quando a corte decidiu que não havia impedimento legal para a extradição do ativista Cesare Battisti, os deputados paralisaram a sessão da Câmara, em Roma, com uma salva de aplausos.

Essa primeira decisão - a corte ainda não havia decidido que a palavra final caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foi recebida pelas autoridades como um reconhecimento do trabalho da Justiça italiana.

Os aplausos vieram quando o deputado Massimo Corsaro, do PDL, de centro-direita, interrompeu os trabalhos para anunciar o voto do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, favorável à extradição.

Um dos parlamentares que comemoraram foi Giovani Bachelet, deputado do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda. Seu pai, o jurista Vittorio Bachelet, foi morto em 1980 pelas Brigadas Vermelhas - outro grupo revolucionário dos anos de chumbo italianos, como os Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), de Battisti.

"A decisão abre caminho para que Battisti passe pela reeducação prevista pela Justiça", disse ele ao Estado. "Estou feliz pelo reconhecimento da Justiça brasileira à seriedade do Estado democrático italiano."

Olga D"Antona, também deputada do PD, ressaltou a recuperação do prestígio da Justiça da Itália, que foi questionada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, no despacho que justificou a concessão de refúgio a Battisti, em janeiro. "É uma vitória para a Itália e para nosso sistema judiciário", reiterou.

"SATISFAÇÃO"

Apesar da expectativa quanto à posição a ser tomada pelo presidente Lula, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, um dos mais críticos à decisão de Tarso, celebrou o que considera como uma primeira vitória para o seu país.

"Sinto grande satisfação, porque foi premiada a linha da responsabilidade e do respeito adotada pelo governo italiano", declarou Frattini.

REPERCUSSÃO NA MÍDIA

Le Figaro

O jornal francês dá destaque ao fato de a maioria dos ministros do STF ter dado aval à extradição, mas ressalta que o presidente Lula pode se opor à decisão se quiser manter Battisti como refugiado no País. O texto informa que o governo italiano se mostra "sereno" em relação ao posicionamento que será adotado por Lula no caso. "É apenas uma formalidade", afirma o ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa.

El Pais

O jornal espanhol destaca o fato de o STF ter aprovado a extradição por 5 votos a 4, mas observa que a decisão sobre o destino do ativista italiano cabe apenas ao presidente Lula. O texto lembra que ele autorizou a concessão do refúgio político a Cesare Battisti em janeiro passado e pode "bloquear" a decisão do Supremo, apesar de nenhum outro presidente ter agido dessa forma em um caso de extradição.

Corriere Della Sera

Na avaliação do jornal italiano, "Cesare Battisti será provavelmente extraditado". Mas admite que a decisão ainda depende do presidente Lula, que terá a palavra final na definição do destino do ativista. O jornal ressalta, entretanto, que autoridades italianas aplaudiram o placar favorável à extradição no STF. O chanceler Franco Frattini, por exemplo, disse ter recebido o voto do ministro Gilmar Mendes com "grande satisfação".

Ansa

A agência de notícias italiana registra que a extradição de Battisti agora depende de Lula. O texto lembra que o refúgio ao ativista foi concedido pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que disse haver "fundado temor de perseguição" contra o italiano. Mas ressalta que, no início da semana, após encontrar-se com primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, Lula indicou que poderia seguir a orientação do tribunal.