Título: Obama rejeita concessões à China e frustra Pequim
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2009, Internacional, p. A18
Presidente dos EUA encerra visita sem atender longa lista de pretensões do governo chinês e obter avanço na área cambial e de direitos humanos
O presidente dos EUA, Barack Obama, encerrou ontem sua visita de três dias à China sem obter concessões nas questões cambiais e de direitos humanos. Mas Pequim viu uma lista muito mais longa de pretensões ser recusada pelo americano. Apesar disso, os dois lados concluíram que as relações bilaterais alcançaram um novo patamar, no qual quase todas as questões globais relevantes passaram a ser consideradas.
Pequim pressionava os americanos a dar à China o status de economia de mercado, o que dificultaria a imposição de direitos antidumping contra a importação de seus produtos. A lista de reivindicações incluía ainda a suspensão das restrições às exportações americanas de alta tecnologia que possam ter uso militar; o fim do embargo à venda de armas em vigor desde 1989; a interrupção da venda de armas a Taiwan e a não-realização de encontros com o dalai-lama.
Os EUA mantiveram inalterada sua posição em todos esses pontos. Obama reconheceu o princípio de uma só China e declarou respeitar a integridade territorial do país, mas defendeu a retomada do diálogo entre Pequim e o dalai-lama. Disse ainda que seu país continuará a observar um acordo com Taiwan pelo qual se compromete a defender a ilha - que a China considera seu território - contra agressões externas.
Apesar das divergências, Obama obteve progressos no principal objetivo de sua visita, que era a busca da cooperação em uma série de temas globais, que vão da mudança climática à não-proliferação nuclear.
Antes de se reunir com o presidente americano ontem, o premiê Wen Jiabao disse que esperava que a visita levasse o relacionamento dos dois países a um novo patamar. "O diálogo é melhor que a confrontação e a parceria, melhor que a rivalidade", declarou o líder chinês. No encontro, Obama repetiu o que disse nos últimos dias: os laços entre Pequim e Washington vão além do comércio e incluem um elenco de questões globais para as quais a cooperação entre os dois países é "crítica".
Após a reunião com Wen, Obama visitou a Muralha da China e embarcou para a Coreia do Sul, onde encerra hoje sua visita de oito dias à Ásia.
Os principais jornais americanos compararam a posição conciliadora do democrata com a agressividade demonstrada por seus antecessores. "Na visita de Obama, um claro contraste com o passado", era o título de reportagem do jornal The Washington Post que registrava o tom "conciliador" do democrata. O texto fazia paralelo entre a viagem atual e a realizada em 1998 por Bill Clinton. O democrata de 11 anos atrás apareceu em rede nacional de TV ao lado do então presidente chinês, Jiang Zemin, em uma entrevista coletiva na qual criticou o massacre de estudantes na Praça Tiananmen, em 1989, e a situação dos direitos humanos na China.
O jornal The New York Times ressaltou que Obama não se encontrou com dissidentes nem com cidadãos comuns, ao contrário de antecessores. "Seja por desejo da Casa Branca ou por insistência dos chineses, Obama evitou encontros públicos com liberais, defensores da liberdade de imprensa e até mesmo chineses comuns, demonstrando um grau de deferência à aversão dos líderes chineses a esse tipo de interação", disse o jornal.
Obama adotou um tom especialmente conciliador na China, mas ele não se restringiu ao país. O maior grau de humildade reflete o empenho do americano para reconstruir a imagem internacional dos Estados Unidos afetada pelo unilateralismo dos anos George W. Bush.
Na Coreia do Sul, onde desembarcou ontem à noite, Obama discutirá sobre a situação da Coreia do Norte e seu programa nuclear.