Título: Queda do compulsório é herança positiva
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2009, Economia, p. B3

A redução dos depósitos compulsórios foi uma "herança positiva" da crise global, disse Mário Torós, antes de ser demitido da diretoria do Banco Central. Ele participou ontem de seminário no Rio, na sede do BC, em comemoração dos 30 anos do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

Economistas e agentes do mercado indagavam se o previsto aperto monetário (em razão do reaquecimento econômico), vai começar pelo recolhimento parcial ou total dos depósitos compulsórios liberados durante a crise ou pelo aumento da taxa básica de juros, a Selic.

Torós, apesar de ver como um fator positivo a redução dos compulsórios - no Brasil muito maiores que na maior parte dos países -, não falou com a imprensa sobre o tema. O ex-diretor do BC, que já era visto como prestes a sair, evitou dar declarações após a repercussão da polêmica entrevista ao jornal Valor Econômico.

Na reportagem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aparece como responsável por informar ao mercado que o BC estava evitando gastar reservas nos tensos momentos iniciais da crise deflagrada pela quebra do Lehman Brothers em setembro de 2009. A revelação, por sua vez, teria levado o mercado a testar o BC, levando ao primeiro grande impulso especulativo contra o real.

Paulo Leme, diretor de Mercados Emergentes do Goldman Sachs, que participou do evento, prevê que a primeira alta da Selic ocorra no fim de 2010. "Mas isso é uma posição bem conservadora", comenta, frisando que sua projeção é que o BC recolha novamente, antes de elevar a Selic, todo o compulsório liberado na crise.

Já Rodrigo Azevedo, sócio do JGP Investimentos, e ex-diretor do BC, acha uma anomalia o nível de compulsórios no Brasil (mesmo pós-crise) e disse que "não é necessariamente verdade" que o BC vá recolher os compulsórios liberados. O total liberado na crise, de R$ 99 bilhões, já equivale a R$ 117 bilhões - o estoque de compulsórios hoje é de R$ 184 bilhões.

Torós disse que o BC já mais que reverteu toda a injeção de dólares de US$ 75 bilhões no mercado durante a crise.