Título: Governo e oposição se armam de dados para embate eleitoral
Autor: Oliveira, Clarissa ; Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2009, Nacional, p. A4
Um lado faz comparações com a gestão FHC e o outro mira gasto público
Intensificada com as críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, a disputa eleitoral entre PSDB e PT não está restrita a artigos, discursos e declarações provocativas. Faz parte do arsenal de governistas e oposicionistas uma quantidade cada vez maior de tabelas, gráficos e indicadores de todos os tipos. Do lado do governo e do PT, são comparações da atual administração com os oito anos de Fernando Henrique. A oposição coleciona dados sobre aumento de gastos públicos, inchaço do funcionalismo e baixa execução orçamentária de obras.
Os petistas e aliados se abastecem principalmente na publicação Destaques, elaborada pela Secretaria de Comunicação da Presidência e divulgada a cada dois meses no site do governo. A revista atualiza o desempenho do governo em várias áreas, com muitas comparações entre 2002, último ano do governo tucano, e o ano passado.
Na edição mais recente, uma tabela com 19 itens facilita a vida dos que querem argumentos para sustentar um melhor desempenho do governo Lula. É o Retrato econômico comparativo entre 2002 e 2008, que destaca índices como aumento do PIB, das exportações e do salário mínimo real e queda do dólar, da inflação e da taxa de desocupação.
A oposição se abastece principalmente no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), onde monitora os gastos do governo petista, e também em dados oficiais da Presidência. Recentemente o DEM levantou o baixo investimento nas obras da transposição do Rio São Francisco, considerando o que já foi efetivamente pago, e o PSDB passou a conferir semanalmente o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O líder tucano na Câmara, José Aníbal (SP), cita o relatório de execução física das obras do São Francisco. "Eles mostram que, no lote 11, foi concluída a supressão vegetal. Nada mais é do que desmatar a área", ironiza.
Ao contrário do PT, do presidente Lula e da pré-candidata Dilma Rousseff, o PSDB não quer saber de comparação entre os dois governos. "Não vamos comparar momentos distintos, circunstâncias distintas. No processo eleitoral, vamos comparar o candidato do governo com o nosso candidato. O que cada um fez, o que propõem para o País", diz Aníbal.
COMPARAÇÕES
Do lado do PT, os líderes garantem que o paralelo entre Lula e Fernando Henrique está apenas no começo. "São oito anos contra oito anos. Em todas as áreas estamos preparados para comparar", diz o líder no Senado, Aloizio Mercadante (SP). O petista deixa claro que o próprio presidente Lula aposta na comparação com o antecessor, misturando dados técnicos com o discurso emocional. "O terceiro mandato do Lula é a Dilma. Quando chegar perto do fim do mandato, o presidente vai se despedir da população. Vai dizer "estou indo embora para casa, agora vocês escolhem entre a ministra Dilma ou a volta do FHC". E mostrará o que aconteceu nos dois governos", diz Mercadante.
Presidente do Instituto Teotônio Vilela, de estudos e formação política do PSDB, o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES) critica a estratégia do PT. "É fracassada na origem, porque eles já chuparam desse osso tudo que tinham para chupar." O tucano insiste na tese da oposição de que "tudo que acontece na economia é resultado da estabilidade", uma conquista anterior ao governo Lula.
"Podemos comparar como o Brasil enfrentou a crise e como a oposição gostaria que tivéssemos enfrentado. A conjuntura internacional no governo Fernando Henrique foi muito boa", reage o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT).