Título: Desafio é induzir Abbas a reeleição
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2009, Nacional, p. A7

Esmagada entre as visitas dos líderes de Israel e do Irã, a vinda ao Brasil do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, se dá em um momento em que o Brasil se oferece voluntariamente para fazer uma intermediação direta do conflito de 60 anos entre palestinos e israelenses. Um dos desafios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu encontro com Abbas no próximo dia 20, em Salvador (BA), será convencê-lo a concorrer à reeleição em janeiro de 2010.

Para o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado, o Brasil pode manter um diálogo estreito com Israel e com a Autoridade Palestina, como fazem outros países. Mas intermediar uma negociação seria um objetivo mais distante. "Para se envolver nesse cemitério de mediações é preciso trazer uma ideia nova, que ainda não existe", advertiu o diplomata.

Como Abbas é mais conhecido, Abu Mazen anunciou na semana passada que não vai mais concorrer à eleição. A causa não está somente no cansaço do político de 79 anos, mas também em sua anemia política. Nos seus quatro anos de governo, Abu Mazen se ressente da impossibilidade de oferecer aos palestinos uma melhoria substancial de condições de vida e uma situação que lhes confira dignidade e segurança diante de Israel.

O líder palestino foi enfraquecido também pelas denúncias de corrupção em seu partido, o moderado Fatah, que controla a Cisjordânia. Esse conjunto de fatores fortaleceu o Hamas, grupo armado que já domina politicamente a Faixa de Gaza e que se opõe ao Fatah. "Abbas está no fio da navalha", resumiu um diplomata especialista no tema. "Ele tem um dos trabalhos mais complicados do mundo e está exaurido."

Para o governo brasileiro, a ausência de Abbas na liderança da Autoridade Palestina tornará ainda mais difícil a retomada do processo de negociação de paz com Israel, que se mostra irredutível em um dos pontos mais nevrálgicos - os assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Na última quarta-feira, em Brasília, o presidente de Israel, Shimon Peres, deixou claro que seu governo não abrirá mão de manter três assentamentos na região. Peres estava sentado ao lado de Lula, no Itamaraty, quando fez o comentário.