Título: Lula retoma discurso contra fome e pobreza
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2009, Nacional, p. A4

Presidente destaca programas sociais criados em seu governo para enfrentar problema no País

ROMA

Na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, antes de seu governo, "milhões de seres humanos eram tratados como estorvo". A declaração fez referência aos brasileiros que passavam fome antes da criação de programas sociais para garantir a segurança alimentar no País.

Promovida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em Roma, a cúpula foi esvaziada pela ausência da maioria dos chefes de Estado e de governos de países do G-20.

Lula discursou depois do líder líbio Muammar Kadafi e do papa Bento 16. O presidente lembrou sua história pessoal. "Tenho da fome, da pobreza e da exclusão social uma experiência de vida, mais do que uma percepção intelectual." E atribuiu a miséria a "um modelo de crescimento concentrador de renda, que reproduzia a desigualdade" no Brasil. "A economia estava desorganizada, atendendo apenas 60% dos brasileiros, deixando o restante entregue à própria sorte", disse.

O Fome Zero, lançado por Lula em janeiro de 2003, no início do primeiro mandato, foi o tema da palestra do presidente na sua estreia como participante do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, naquele ano.

Ontem, em Roma, Lula aproveitou a oportunidade para atacar os críticos que consideram assistencialistas programas como o Bolsa-Família - que substituiu o Fome Zero entre as prioridades do governo. "Qualquer esforço para socorrê-los da pobreza, da exclusão e da desigualdade era visto, e ainda é, por alguns, como assistencialismo ou populismo." E enumerou: 20,4 milhões de pessoas retiradas da pobreza, redução de 62% na mortalidade infantil, 50 milhões de pessoas beneficiadas por programas sociais em seu governo. O presidente disse que o País já cumpriu os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antecipando-se ao prazo estabelecido pela ONU, 2015. "Agora trabalhamos para a total erradicação da fome no Brasil."

Fazendo críticas ao sistema financeiro, Lula lembrou a disposição dos governos para salvar os bancos. "Frente à ameaça de um colapso financeiro internacional, causado pela especulação irresponsável e pela omissão dos Estados na regulação e fiscalização do sistema, os líderes mundiais não hesitaram em gastar centenas e centenas de bilhões para salvar bancos falidos", afirmou. "Com menos da metade desses recursos, seria possível erradicar a fome no mundo."

O presidente pediu fim dos subsídios agrícolas e reforma das instituições internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. "Necessitamos de medidas que funcionem em situações emergenciais. Mas o mais importante são soluções de longo prazo, capazes de prevenir calamidades". À tarde, Lula relativizou a ausência de outros chefes de Estado. "Eles já não estiveram aqui no ano passado, nem no outro", observou. Para Lula, o importante é que os países mais pobres pressionem pelo cumprimento dos acordos já firmados. "A verdade nua e crua é que não se deve esperar que os países ricos venham à FAO anunciar que vão dar dinheiro."

Mas demonstrou esperanças. "O mundo está percebendo que, com menos da metade do dinheiro que foi colocado para salvar o sistema financeiro em outubro do ano passado, a gente pode salvar a humanidade".