Título: Petrobrás acena com sua saída do Irã às vésperas da visita de Ahmadinejad
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2009, Nacional, p. A4

Alvo de pressão americana, estatal já devolve concessões; diretor da empresa nega viés político em decisão

RIO

A Petrobrás estuda encerrar as atividades no Irã, após a perfuração de dois poços em busca de petróleo no país. Segundo o diretor da área internacional, Jorge Zelada, a empresa já iniciou o processo de devolução das concessões e caminha para fechar sua representação iraniana. Na semana que vem, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é esperado no Brasil para encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde 2004, quando chegou ao Irã, a Petrobrás tem sofrido pressões, sobretudo de investidores americanos, para deixar o país. Em 2007, o governador da Flórida, Charlie Crist, cancelou reunião com a estatal, durante visita ao Brasil, alegando que "não faz negócios com companhias que patrocinam o terror". A Flórida proibira, naquele ano, que fundos de pensão do Estado investissem em empresas com operações no Irã e no Sudão.

Em entrevista após palestra na conferência Brazil Global Energy, no Rio, Zelada garantiu que a Petrobrás não está cedendo às pressões. "A decisão é estritamente técnica", disse. "Para que ficar lá se não tem produção que pague o investimento?"

A estatal chegou a encontrar óleo em suas concessões no Irã, mas declarou que os poços são "subcomerciais" - não têm volume suficiente para bancar o investimento. Com 137 bilhões de barris em reservas, o Irã é a segunda maior potência petrolífera mundial, só perdendo para a Arábia Saudita.

CONDIÇÃO POLÍTICA

Com problemas econômicos, Teerã busca parceiros internacionais que possam desenvolver projetos de produção. Depois da posse de Barack Obama, o governo iraniano acreditou que haveria uma aceleração dos investimentos - segundo os iranianos, reduzidos durante a gestão George Bush.

"Esperamos que as novas condições abram novas possibilidades para a Petrobrás", afirmou, em março, o ministro de Petróleo do Irã, Gholam Nozari, entre reuniões em Genebra. A estatal tem duas concessões no mar de Tusan, no Golfo Pérsico. Zelada disse que o futuro da representação no Irã será decidido em breve.

Na palestra, o executivo adiantou que o foco da estatal no exterior está sendo reavaliado, no sentido de respeitar maior complementaridade com atividades no Brasil. A área de exploração e produção, que hoje responde por 78% do orçamento, deve perder peso relativo para segmentos de abastecimento e gás natural. O objetivo é evitar projetos concorrentes com o pré-sal brasileiro.

No caso do abastecimento, a empresa busca mercados para o petróleo que será extraído no pré-sal. Parte será refinada no Brasil, mas é possível que a Petrobrás venha a buscar nova capacidade de refino no exterior para a colocação do óleo. A empresa realiza um estudo para investimentos na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que já deve contemplar essa nova visão.