Título: EUA negam que estejam ignorando Zelaya
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2009, Internacional, p. A14

Líder deposto acusa a Casa Branca de aliviar a pressão sobre Micheletti

O governo americano continua conversando com o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e não o está ignorando, garantiu ontem o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly. "Não estamos ignorando Zelaya, muitos altos funcionários americanos estão falando com ele", disse Kelly ontem.

Zelaya enviou uma carta ao presidente Barack Obama no sábado, em que dizia que não mais aceita ser restituído ao poder, porque isso serviria apenas para legitimar o golpe. Zelaya foi deposto no dia 28 de junho e Roberto Micheletti assumiu a presidência de facto.

"A partir de agora, de qualquer jeito, já não aceito nenhum acordo de retorno à presidência, que serviria para encobrir o golpe de Estado", ele afirmou na carta.

O Departamento de Estado disse que a carta será respondida. Segundo uma fonte do governo americano, Washington não perdeu as esperanças em relação ao acordo. "Em outras ocasiões já foi dito que o acordo estava morto. Nós não vamos desistir. Eles devem voltar a negociar", disse ao Estado.

VOTO RECONHECIDO

Mas a diplomacia americana mantém sua linha de não atrelar a volta de Zelaya ao poder ao reconhecimento das eleições do dia 29, o que irrita o presidente deposto.

"Continuamos insistindo para que os partidários de Micheletti e Zelaya voltem à mesa de negociações e pedimos que cumpram o espírito e as determinações do acordo San José-Tegucigalpa, incluindo no que se refere à restituição de Zelaya", declarou ao Estado Charles Luoma-Overstreet, porta-voz da divisão de Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado. Ou seja, a decisão de restituir ou não Zelaya fica a cargo do Congresso de Honduras e é independente da realização das eleições.

Partidários de Zelaya e de Micheletti fecharam um acordo sob forte pressão dos EUA. O pacto San José-Tegucigalpa previa a formação de um governo de união nacional, uma comissão da verdade e deixava para o Congresso a decisão de como, quando e se restituir Zelaya à presidência.

O mandato de Zelaya iria até o dia 27 de janeiro, mas o deposto diz que o acordo exige "o seguro retorno do presidente da república eleito legitimamente por voto popular". Membros do governo de facto, porém, argumentam que o presidente deposto concordou em submeter a decisão ao Congresso.

Micheletti formou seu governo de união nacional sem a participação do campo zelaysta. Com três quartos dos deputados em campanha para se reeleger, o Congresso evita ter de se pronunciar sobre a volta de Zelaya. Em meio ao desacordo, o presidente deposto disse o acordo havia sido rompido.

Zelaya acusa Washington de ter parado de pressionar o governo de facto, após indicar que reconheceria as eleições mesmo sem a volta do presidente deposto.