Título: Torós abre crise no Banco Central
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2009, Economia, p. B19

Uma entrevista concedida pelo diretor de Política Monetária, Mário Torós, ao jornal Valor Econômico abriu uma crise no Banco Central (BC). Responsável pela administração de mais US$ 230 bilhões em reservas internacionais, e pelas operações no mercado de câmbio, Torós descreveu bastidores da atuação do BC durante a crise, nomes de bancos que sofreram saques e o ataque especulativo contra o real.

Torós já havia manifestado interesse em deixar o BC. Agora sua saída deverá ser apressada, segundo fontes de mercado. Segundo as fontes, Torós desrespeitou a hierarquia ao tratar de temas que dizem respeito ao presidente do banco, Henrique Meirelles, e revelou informações que não são públicas.

O interesse de Torós, ainda segundo essas fontes, teria sido chamar a atenção para seu papel no enfrentamento da crise, num momento em que define seu futuro profissional. Procurada pela reportagem do Estado, a assessoria de imprensa do BC informou que Torós não iria comentar a reportagem.

A assessoria de imprensa limitou-se a informar que "as declarações atribuídas ao diretor de Política Monetária, Mário Toros, pelo jornal Valor Econômico traduzem uma avaliação de caráter pessoal. O Banco Central não fará comentários a respeito".

A substituição de Torós não é uma tarefa fácil. Depende da difícil escolha de um nome para sucedê-lo. Além da responsabilidade de gerir as operações de câmbio, há dúvidas sobre a futura linha de atuação do BC.

Torós é considerado um diretor da ala mais ortodoxa do BC, junto com Mário Mesquita, diretor de Política Monetária. Torós e Mesquita são também, além do presidente Henrique Meirelles, os únicos membros da diretoria que vieram da iniciativa privada.

O nome do eventual sucessor de Torós dirá se haverá ou não mudança na atuação do banco. A definição é ainda mais sensível porque Meirelles estuda se vai ou não se desligar do BC para se candidatar a algum cargo nas eleições de 2010. Também se especula que Mesquita está de saída.

A entrevista de Torós provocou polêmica porque tratou de temas sensíveis ao BC. Segundo a reportagem, em outubro de 2008, o Brasil viveu uma corrida bancária. Em poucos dias, R$ 40 bilhões migraram dos pequenos e médios bancos para as grandes instituições.

Segundo Torós, empresas e bancos perderam US$ 10 bilhões por apostas malsucedidas no mercado futuro e um grande fundo de investimentos estrangeiro usou US$ 5 bilhões para especular contra o Brasil - o jornal cita o americano Moore Capital Management.

A reportagem cita que os bancos Votorantim e Safra sofreram saques. A suspeita dos clientes era que o Votorantim poderia ter sofrido com os derivativos financeiros do grupo e o Safra por ter ações da Aracruz. Posteriormente, o Banco do Brasil comprou 50% do banco Votorantim.