Título: Ascensão de Von Rompuy orgulha e preocupa belgas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2009, Internacional, p. A14
Correntes separatistas internas podem voltar a se enfrentar e causar instabilidade com saída do premiê
Desde quinta-feira, a reação dos belgas misturava orgulho com temor sobre a escolha de Herman Van Rompuy para primeiro presidente da União Europeia, por causa do risco de instabilidade após sua saída do cargo de primeiro-ministro.
Van Rompuy liderou a Bélgica, que é dividida linguisticamente, de forma conciliadora por quase um ano, em forte contraste com os 18 meses tumultuados sob o comando de seu antecessor Yves Leterme, o homem que provavelmente será o próximo premiê belga.
"Há um novo elemento de fragilidade. Leterme não goza da mesma confiança que Van Rompuy entre os que falam francês", disse Pascal Delwit, professor de política na Universidade Livre de Bruxelas.
O rei Albert conversou ontem com Van Rompuy, que assumirá o novo cargo no início de janeiro, e depois começou a receber chefes de vários partidos para determinar o futuro do governo. Especialistas constitucionais discutem se Van Rompuy deveria simplesmente renunciar como qualquer outro ministro, ou se sua saída significaria o fim de seu governo, uma perspectiva capaz de causar disputas sobre os demais cargos e políticas nacionais.
A Bélgica, como qualquer outro país, não pode arcar com uma paralisia política num momento de crise econômica, quando decisões rápidas podem ser necessárias.
Os que falam francês na Bélgica, um país de 10,6 milhões de habitantes, expressaram desgosto pelo potencial retorno de Leterme, cuja batalha inicial de nove meses para formar um governo provocou especulações sobre uma possível a ruptura do país.
Há duas semanas, o jornal francófono Le Soir insistiu para os democrata-cristãos flamengos não o escolherem. "Já tentou, não funcionou", foi o comentário do jornal.
Na eleição de 2007, Leterme prometeu conceder mais poder às regiões - Flandres, de fala holandesa, Valônia e Bruxelas, de fala francesa. Os que falam francês temem que uma medida como essa possa provocar uma fratura na Bélgica.
A economia provavelmente continuará sendo a principal preocupação do governo, mas o novo premiê belga terá de encontrar um consenso sobre os poderes que podem ser delegados na questão espinhosa de redesenhar as fronteiras políticas em torno de Bruxelas.
O governo terá de resolver essas questões antes de julho, quando a Bélgica assumirá a presidência da UE por seis meses, um posto ocupado em rodízio pelos Estados integrantes da União.