Título: Escolha de líder da UE é criticada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2009, Internacional, p. A14

Para jornais e analistas europeus, nomeação do belga Rompuy é oportunidade perdida de dar mais voz ao bloco

A escolha do discreto líder belga Herman Van Rompuy para presidir a União Europeia (UE) foi criticada ontem por analistas e por parte da imprensa europeia. A eleição de quinta-feira - que também nomeou a britânica Catherine Ashton como vice-presidente e chanceler do bloco - foi, segundo eles, uma oportunidade perdida de fortalecer a voz da UE frente aos EUA e à China.

"Nos disseram que iam reforçar o papel da Europa no mundo, mas as designações provocaram uma grande decepção", disse Jean-Dominique Giuliani, presidente da Fundação Robert Schuman.

Marco Incerti, do Centro de Estudos Políticos Europeus, também, foi crítico. "Americanos, chineses e indianos perguntavam-se se a Europa estava finalmente preparada para assumir suas responsabilidades no mundo". A resposta que estes países obtiveram, segundo ele, foi que "por enquanto, o bloco prefere se conformar com o mínimo denominador comum, em vez de levantar-se e assumir seu papel".

Para o jornal britânico Financial Times, "a escolha de dois políticos relativamente desconhecidos desaponta aqueles que queriam dar à Europa mais peso no cenário mundial. Provavelmente, o presidente dos EUA e o premiê chinês continuarão a trabalhar com a Europa prioritariamente por meio de conversas bilaterais com Berlim, Londres e Paris", disse o jornal londrino.

Van Rompuy, democrata-cristão de 62 anos, ganhou respeito e confiança dos belgas depois de ter evitado uma crise considerada até então irreversível entre grupos separatistas belgas de origem holandesa (Flanders) e francesa (Valônia). Considerado um político discreto, o novo presidente tem como trunfo justamente a capacidade de liderar sem ofuscar o papel de presidentes de países poderosos como a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha.

INEXPERIENTE

Já a diplomata britânica de 53 anos que assumirá a chancelaria do bloco teve de apressar-se em justificar a escolha de seu nome, pedindo que seja julgada apenas depois de apresentar o resultado de seu trabalho.

"Será uma tarefa muito dura para Ashton, que não tem nenhuma experiência diplomática e desde o primeiro dia deverá começar a construir o novo serviço de Relações Exteriores da UE", disse Janis Emmanoulidis, analista do Centro de Política Europeia.