Título: Ahmadinejad busca legitimar reeleição no Irã
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2009, Nacional, p. A7

Grupos contam 115 execuções após protestos contra fraudes nas urnas

Por trás dos esforços do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em fortalecer sua imagem no cenário internacional está em jogo, além de interesses comerciais, a legitimidade de seu governo. O regime vigente no Irã nunca esteve tão vulnerável. A vitória de Ahmadinejad para o segundo mandato, em junho, não é reconhecida pela oposição e por parte dos iranianos. Após as eleições, eles saíram às ruas em protesto, no maior levante popular desde a Revolução Islâmica, de 1979. Teerã respondeu com violência. Entre as eleições e a posse, em agosto, 115 iranianos foram executados, segundo grupos de direitos humanos citados pelo The New York Times, ontem.

"Domesticamente e para alguns países do G-20 esse governo é ilegítimo. O que Ahmadinejad tenta agora é recuperar a sua imagem como líder, internamente e para o mundo", diz o pesquisador iraniano Karim Sadjadpour, do Carnegie Endowment for International Peace. "A influência do Brasil no cenário mundial é cada vez maior, então, a aproximação interessa ao presidente iraniano. Mas o custo dessa amizade pode ser alto. Ignorar as brutalidades do governo de Ahmadinejad põe em xeque a posição que Lula tenta assumir como mediador da paz e defensor da justiça."

As organizações internacionais vêm denunciando o uso de prisões arbitrárias e execuções no Irã como forma de intimidar os dissidentes. Vivendo em Teerã, um estudante americano-iraniano, de 30 anos, que pediu anonimato por temer represálias, falou ao Estado, por telefone, sobre o clima após as eleições. "Ahmadinejad saiu claramente enfraquecido. Desde então, a pressão política e as violações de direitos contra os iranianos aumentaram muitíssimo."

Para especialistas, Teerã tenta amedrontar a população, mas a queda do regime é questão de tempo. Mais de 70% da população tem menos de 30 anos. "São gerações nascidas pós-Revolução, que não se sentem representadas pelos líderes do regime nem se identificam com seus ideais", diz Sadjadpour. Mais: nasceram e cresceram na era da globalização e da internet. "Eles querem se relacionar com o mundo."

DIREITOS HUMANOS

Em uma resolução aprovada sexta-feira no âmbito do Terceiro Comitê das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos no Irã, o Brasil se absteve do voto. "É inaceitável que o Brasil não se posicione. A Constituição é clara. O artigo 4º determina que os direitos humanos devem prevalecer nas relações internacionais", diz Lucia Nader, da Conectas Direitos Humanos. A resolução será levada à aprovação da Assembleia Geral da ONU.