Título: Após pressão, Battisti sinaliza fim da greve de fome
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2009, Nacional, p. A8
Censurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e advertido pelos próprios advogados de que seu gesto é inútil e pode ter efeito contrário, por passar a impressão de pressão indevida sobre o governo e o Judiciário, o ativista italiano Cesare Battisti decidiu ontem reconsiderar a greve de fome iniciada há uma semana. A expectativa da defesa é que ela termine hoje.
A equipe médica da penitenciária da Papuda, onde Battisti está preso, aguardando o desfecho do seu processo de extradição, está de sobreaviso para providenciar sua readaptação alimentar. Ontem, o advogado Luiz Roberto Barroso teve longa conversa com Battisti e o convenceu de que continuar a greve de fome agora, quando a decisão do presidente ainda pode demorar alguns meses, seria "um tiro no pé ou coisa pior". A greve de fome foi considerada pela advogados uma "ação desesperada" para evitar a extradição.
Ex-militante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália, acusado de envolvimento em quatro assassinatos na década de 70. Após fugir da prisão em 1981, ele viveu no México e na França por mais de vinte anos e, desde 2004, está no Brasil, onde entrou com documentos falsos. Clandestino, vivia no Rio, sob a proteção de amigos, quando foi preso pela PF para fins de extradição, pedida pela Itália.
Battisti ganhou refúgio político, concedido em janeiro pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou o decreto ilegal, por entender que os crimes do italiano são comuns, não políticos. Mas o STF deu a prerrogativa da última palavra sobre o pedido de extradição ao presidente da República, que aguarda a publicação do acórdão para decidir. A tendência é que a extradição seja negada, como quer o ministro da Justiça.
Genro já sugeriu que, diante das "manifestações hostis" de autoridades italianas, já haveria argumentos para Battisti entrar com novo pedido de refúgio baseado em perseguição política. Mas a defesa decidiu esperar a publicação do acórdão e a decisão do presidente. "Estamos de mãos atadas e, por enquanto, só nos resta demonstrar tecnicamente que o caminho mais justo é não haver a extradição", disse a advogada Renata Saraiva.
O arrazoado técnico da defesa sustenta que Battisti não teve um julgamento justo e que o processo contra ele teria motivação política. Ainda segundo os advogados, o italiano estava fora do PAC quando foram cometidos 3 dos 4 assassinatos dos quais ele é acusado. No Brasil, o processo contra Battisti é por uso de passaporte falso.