Título: Efeito Ahmadinejad adia votação sobre Mercosul
Autor: Mello, Patrícia Campos ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2009, Nacional, p. A10

Para aliados do Planalto, é melhor retardar a adesão da Venezuela ao bloco, o que depende de aval do Senado

O ingresso da Venezuela no Mercosul foi temporariamente congelado pela base aliada para não congestionar a agenda diplomática do governo com ações polêmicas. Prejudicado pelo "efeito Ahmadinejad", o presidente Hugo Chávez terá de esperar pela decisão do Senado sobre o protocolo de adesão de seu país ao Mercosul. O Senado deveria ter votado ontem o ingresso da Venezuela no bloco. Oficialmente, a justificativa foi a falta de quorum.

O governo vai tentar marcar a data da votação na reunião de líderes agendada para esta tarde. É consenso entre os aliados do Planalto que, quanto mais tarde, melhor para diluir um pouco o efeito provocado pela vinda ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, cuja presença desencadeou manifestações contrárias pelo País.

Criticados pela comunidade internacional, Chávez e Ahmadinejad são acusados de conduzir ações antidemocráticas em seus países. "Existe uma conexão perigosa entre essas duas figuras", diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Já basta a turbulência provocada pela vinda de Ahmadinejad."

É o terceiro adiamento da votação da resolução no plenário. O texto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em 29 de outubro. Na primeira semana, os governistas alegaram que "não havia clima" para o exame no plenário. Na outra semana, Chávez foi responsável pelo adiamento, ao surpreender os parlamentares com a declaração de que os líderes militares de seu país devem estar preparados para a guerra no continente.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), autor do parecer contrário à entrada da Venezuela no Mercosul - derrotado na CCJ -, vê "um conjunto de coisas muito ruins para o governo". Para ele, "Ahmadinejad é um pingo d"água, mas mostra a política externa desastrosa, oposta à tradição brasileira".

ISOLAMENTO

Para o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), a proposta será votada "na hora em que houver quorum elevado". Ele lembra da declaração do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, opositor de Chávez, de que o isolamento não ajudará aquele país.

Mercadante alega que a Venezuela é o maior parceiro comercial do Brasil, com um superávit de US$ 4,6 bilhões ao ano e, sem o Mercosul, a tendência será o de desviar esse superávit para China e Rússia.

O líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), dá como certo que o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul será votado este ano, mas não diz quando. "Não quero precipitar, quero fazer isso da forma mais delicada possível." Jucá reitera sua tese de que, gostando ou não de Chávez, não há como "tirar a Venezuela da América do Sul".