Título: Cariocas enfrentam calor para protestar contra visita de iraniano
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2009, Nacional, p. A6

Passeata reuniu judeus, católicos, grupos homossexuais e movimento negro

Um protesto contra a vinda ao Brasil do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, reuniu cerca de 800 pessoas ontem na praia de Ipanema, na zona sul do Rio. No fim de semana, houve protestos também em Florianópolis (SC) e Curitiba (PR).

Organizada por grupos judaicos, a passeata no Rio conseguiu unir as mais diversas representações, como integrantes do movimento negro, católicos, comissão de defesa dos direitos das mulheres, Grupo Arco-Íris (de defesa dos direitos dos homossexuais), União Cigana e políticos. Até um muçulmano, representante da Sociedade Beneficente de Desenvolvimento Islâmico, participou da manifestação.

Levando apitos e cartões vermelhos, os manifestantes condenaram o presidente Ahmadinejad por negar o Holocausto, por pregar a destruição do Estado de Israel e pela intolerância religiosa. Eles caminharam debaixo de um calor de 35 graus pela pista fechada de Ipanema carregando cartazes em defesa dos direitos humanos e dançando ao som do batuque dos Filhos de Gandhi.

"Considero a visita de Ahmadinejad uma ofensa ao Brasil e ao povo brasileiro", afirmou Alexander Zaks, que levava no peito uma réplica da estrela de David usada pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Único sobrevivente de uma família de 60 pessoas vítimas do Holocausto, Zaks criticou a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de receber o líder iraniano.

POLÊMICAS

Bandeiras do Brasil, de Israel e com as cores do arco-íris, além de banho de água de cheiro, tambores, kipás (que judeus usam na cabeça) e xador (o lenço das muçulmanas) compartilharam o mesmo espaço, mostrando a democracia do protesto. Mas o encontro não passou sem polêmica. A primeira delas, por parte dos evangélicos, que prometiam ir até o protesto para converter judeus. A ameaça não se concretizou.

Porém, houve um momento delicado. No seu discurso, o representante da Sociedade Beneficente de Desenvolvimento Islâmico, Salah Al-Din Ahmad Mohammad, que participou do protesto em nome da tolerância religiosa, afirmou que o homossexualismo tinha cura e perdão e, além disso, condenou os mais diversos tipos de genocídio, entre os quais, citou nominalmente "o apartheid da Palestina". Os aplausos foram escassos.

No fim do evento, os participantes soltaram balões brancos com palavras em defesa dos direitos humanos, como "liberdade sexual", "direitos da mulher" e "pluralismo".