Título: Citibank foi oferecido ao Brasil, diz Lobão
Autor: Fernandes, Nalu
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2009, Economia, p. B6

Segundo ministro, no auge da crise, governo brasileiro negociou compra da instituição

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, revelou ontem, durante palestra em Nova York, que, no auge da crise, o Brasil quase comprou o Citibank e poderia tê-lo feito. "Poderíamos ter comprado e ter grande lucro, além do prestígio", afirmou. Segundo o ministro, a decisão de não adquirir o banco foi do governo como um todo.

"Acho que foi uma boa oportunidade que perdemos", disse, durante o pronunciamento. "Mas qualquer governo prudente teria cautela naquele momento. E o Brasil foi cauteloso."

Lobão comentou que, antes de o governo americano acertar a compra de um terço do Citi, a instituição procurou as autoridades brasileiras. Ele disse que não sabe "exatamente o preço" que foi tratado com o Brasil, mas que, considerando o tamanho das reservas brasileiras, o País poderia ter adquirido essa fatia da instituição.

À noite, em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que não houve oferta de venda do Citi ao setor público brasileiro. "Ao menos eu desconheço", afirmou. Ele disse também desconhecer se houve oferta ao setor privado.

No entanto, o Estado apurou que o presidente do Citibank no Brasil, Gustavo Marín, chegou mesmo a oferecer a representantes do governo a compra de metade da filial brasileira. A transação, se efetivada, se daria por meio do Banco do Brasil.

Naquele momento, o Citigroup precisava mostrar um balanço com bons números, uma vez que estava sob forte pressão de investidores e analistas.

Uma das formas de fazer isso seria vendendo parte ou a operação brasileira inteira. O Citigroup também recebeu propostas do Itaú e do Bradesco pela filial no País, mas não houve acerto.

Em paralelo, os executivos do banco americano encontraram outra saída para engordar o caixa no Brasil e, por tabela, no mundo: fazer uma oferta pública secundária de ações da processadora de cartões de crédito e débito Redecard na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Concluída no fim de março, a operação rendeu ao Citi pouco mais de R$ 2 bilhões.

Então maior banco americano e do mundo, o Citigroup foi uma das instituições financeiras que mais sofreram com a crise das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. A onda de calotes abalou fortemente os alicerces do banco, o que se refletiu no preço de suas ações na Bolsa de Nova York, que chegaram a ser negociadas por menos de US$ 1. Depois de muitas idas e vindas, o Citi acabou sendo salvo pelo governo americano.

No fim de julho, o Citigroup completou a troca de títulos de US$ 60 bilhões que tornou o governo dos Estados Unidos dono de um terço do banco.

Todos os US$ 20,3 bilhões em ações preferenciais e títulos híbridos de ações e dívida detidos publicamente pelo Citi foram trocados na oferta por ações ordinárias, enquanto o governo trocou cerca de US$ 39,5 bilhões de ações preferenciais por novos títulos.

Procurada, a assessoria do Citi no Brasil não se pronunciou.