Título: Haddad articula candidatura em SP
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2009, Nacional, p. A8

Apesar das resistências no PT paulista, ministro dá sinal verde a aliados para que saiam em busca de apoio

Em meio à indefinição sobre o destino político do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o ministro da Educação, Fernando Haddad, decidiu colocar em prática uma operação para tentar se lançar como candidato ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem. Apesar das resistências ao seu nome no PT paulista e da repercussão negativa do vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Haddad deu sinal verde para que aliados aproveitassem a eleição interna do partido, no último fim de semana, e coletassem as assinaturas exigidas para registrar a pré-candidatura.

Nas últimas semanas, Haddad também começou a negociar com a cúpula do PT em São Paulo uma data para participar de um ciclo de sabatinas com potenciais candidatos. O partido vem prometendo uma conversa com cada um dos cotados. Até agora, somente o prefeito de Osasco, Emidio de Souza, participou desse processo.

O ex-ministro Antonio Palocci continua sendo apontado como favorito caso Ciro desista de disputar. Ainda assim, Haddad avisou ao comando da legenda que está à disposição para a tarefa. Outros petistas, como o senador Eduardo Suplicy e o ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, além de Emidio, também se ofereceram para o posto. Palocci, entretanto, tem optado pela discrição e deixa a articulação a cargo de aliados.

Nas conversas com dirigentes do PT, Haddad costuma ressalvar que não quer se lançar numa disputa interna. Garante ainda que não vai impor nenhum obstáculo aos planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a corrida estadual.

ARTICULAÇÃO

Lula ofereceu a cabeça de chapa na disputa paulista a Ciro, como parte de uma operação para tentar tirar o deputado da corrida presidencial e viabilizar uma eleição plebiscitária entre a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o candidato do PSDB, posto para o qual estão cotados os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves. O time de Haddad não vai bater de frente com o PSB, mas avalia que Ciro avança cada vez mais em direção à corrida presidencial.

"Temos o consentimento de Haddad e vamos recolher todas as assinaturas necessárias para o registro da pré-candidatura", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), lembrando que a direção partidária determinou que os interessados na vaga deverão ter o endosso de pelo menos 1% dos filiados no Estado. "Ciro tem a vantagem de ajudar a formar uma unidade nacional e enxergamos isso com bons olhos. Mas não vamos ficar parados." Também empenhado na busca de apoio a Haddad, o deputado estadual Simão Pedro engrossa o coro. "Avaliamos que a candidatura própria é a melhor alternativa e vamos trabalhar por esse projeto."

Mesmo que Ciro se retire da disputa, Haddad terá de enfrentar a resistência de vários setores do PT paulista, em especial do grupo da ex-prefeita Marta Suplicy. Se Palocci também sair de cena, o time da ex-prefeita tende a tentar emplacá-la como a candidata ao Palácio dos Bandeirantes. Para completar, Haddad precisa contornar o desgaste provocado pelo vazamento da prova do Enem, revelado pelo Estado no início de outubro. Aliados do ministro elogiam a resposta dele ao caso, mas a análise de altos dirigentes do PT é a de que lhe faltou jogo de cintura e segurança na hora de lidar com o problema. Entre os adeptos da candidatura do ministro, a torcida é para que o episódio esfrie após a realização da nova prova, nos dias 5 e 6 de dezembro.