Título: Ministro da Cultura afirma que jornalistas são pagos para mentir
Autor: Pennafort, Roberta
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2009, Nacional, p. A12
Reação veio após ser questionado sobre panfleto com lista de parlamentares que apoiam a pasta
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, atacou a imprensa, dizendo que os jornalistas "são pagos para mentir". A reação ocorreu durante o anúncio do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult), pelo qual será destinado R$ 1 bilhão para projetos culturais, até 2012.
Os representantes do setor que foram à sede do BNDES na manhã de quarta-feira prestigiar a iniciativa se depararam com outra discussão: a impressão, pelo Ministério da Cultura, de um panfleto dirigido a eleitores, com uma lista de mais de 300 parlamentares que votam favoravelmente às iniciativas da pasta.
Logo depois do anúncio, feito pelo diretor de Inclusão Social e Crédito do BNDES, Elvio Gaspar, o ministro foi questionado sobre o folheto, mas respondeu que preferia falar sobre o Procult. Quando os repórteres insistiram, Ferreira, que no dia anterior havia negado que o panfleto houvesse sido impresso pelo ministério, esclareceu que se trata de uma lista com nomes de vários partidos, e não só da base aliada. A listagem tem deputados de todo o País, de partidos como PT, PSDB, PP, PV, PMDB, DEM e PDT.
Irritado com as perguntas, o ministro disse que foi desrespeitado pela imprensa na cobertura do caso do panfleto, ressaltando que sua reação foi normal. "Meu pinto, meu coração, meu estômago e meu cérebro é uma linha só. Não sou um cara fragmentado, entendeu? Fui desrespeitado pela imprensa, que reverberou sem investigar, e por dois ou três parlamentares. É um trabalho suprapartidário. Não trabalho com esse critério, a cultura é muito mais ampla do que a política."
Ontem, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) declarou ser "inaceitável" a forma como o ministro falou da imprensa e de parlamentares, reclamando dos termos "chulos".
A reportagem do Estado procurou o ministro da Cultura, mas sua assessoria informou que, por causa de compromissos assumidos em Ilhéus (BA), na abertura da 3ª Conferência Nacional de Cultura, ele não poderia falar com a imprensa no dia.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, considerou o episódio do folder como caso de "pressão legítima" da sociedade sobre o Congresso. "E é assim que se faz no Brasil. O Congresso funciona sob pressão, uma pressão saudável, as pessoas se mobilizando", afirmou. "Portanto, ministro Juca, eu quero, como prefeito da cidade mais cultural do Brasil, me unir a vossa excelência nessa pressão legítima que se faz sobre os parlamentares para que nós possamos ter aprovadas nossas iniciativas culturais."
CONOTAÇÃO
O presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata, assim como a presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro, Sônia Machado Jardim, concordam que é importante para o eleitor interessado na área cultural saber a posição dos parlamentares sobre a questão.
Como não viram o folheto, não quiseram falar especificamente sobre seu conteúdo. Barata, no entanto, ressalvou que é preciso ter cuidado para que eleitores ingênuos não sejam manipulados. "Mas não acredito que tenha tido conotação eleitoral", disse.
"Não sei se era propaganda política. Estou num setor que tem tão pouco recurso, que a gente deve buscar quem tenha uma plataforma que possa ajudar", afirmou Sônia, vice-presidente de operações da editora Record. "Os deputados, senadores e vereadores em quem eu voto devem ter alguma coerência com meu pensamento."
Além do setor teatral e editorial, o cinematográfico também estava representado no BNDES. O Procult vai aceitar propostas também nas áreas de patrimônio histórico, música, jogos eletrônicos e dança.
COLABOROU JOTABÊ MEDEIROS