Título: Empresa era a joia da coroa de Dubai
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2009, Economia, p. B9

Companhia investe em portos, imóveis e entretenimento em vários países

A estatal Dubai World foi durante muito tempo a joia da coroa da economia de Dubai, com a operação de portos, sistemas de transportes e encabeçando ambiciosos projetos de infraestrutura e imobiliários, no mercado doméstico e no exterior. Seu braço no setor imobiliário, o Nakheel, atualmente no olho do furacão, foi responsável pela construção da famosa ilha em formato de palmeira em Dubai.

Dubai e Abu Dabi são os dois maiores dos sete Emirados semiautônomos dos Emirados Árabes Unidos. Ontem o governo de Dubai anunciou a reestruturação do grupo, que pode implicar no adiamento do pagamento de cerca de US$ 3,65 bilhões em bônus islâmicos (sukuk) da Nakheel - com vencimento em dezembro.

No entanto, a principal divisão do grupo é a DP World, quarta maior operadora de portos do mundo, com participação de 77% da Dubai World e o restante listada na Nasdaq Dubai. Entre os ativos da DP World estão o aeroporto de Jebel, o maior terminal de contêineres do Oriente Médio. O governo tenta preservar essa unidade. Segundo nota distribuída para a Nasdaq Dubai nesta quinta-feira, o DP World ficará de fora da reestruturação.

Em 2006, o grupo envolveu-se em um redemoinho político em Washington após a DP World propor a compra de um concorrente, que na época detinha um grande número de portos nos Estados Unidos. A proposta foi vetada pelo Congresso americano, forçando a Dubai World a se desfazer de ativos adquiridos antes de a operação ser concluída.

Nos últimos anos, o Dubai World diversificou os negócios além dos portos com recursos obtidos por meio de emissão de dívida. Em 2007, entrou no projeto avaliado em US$ 8,5 bilhões em parceira com o MGM Mirage para a construção do CityCenter Las Vegas, um complexo de hotéis, condomínios residenciais e escritórios comerciais. Um porta-voz da MGM Mirage disse que o Dubai World já cumpriu todos os financiamentos do projeto, que somavam US$ 4,65 bilhões.

Em 2007, o grupo de investimentos do Dubai World, o Istithmar, adquiriu a varejista Barneys New York por menos de US$ 1 bilhão.

Alguns dos investimentos do Dubai World nos Estados Unidos, feitos no auge da valorização do mercado, perderam substancial valor. A participação no projeto do CityCenter, por exemplo, foi adquirida em agosto de 2007, quando o mercado imobiliário de Las Vegas estava no pico de valorização. Na época, o CityCenter estava apenas parcialmente concluído e os ativos do projeto eram avaliados em US$ 5,4 bilhões. Menos de dois anos depois, a MGM Mirage anunciou baixa contábil de cerca de US$ 2,34 bilhões, equivalente a perda no valor do projeto, desvalorizando a participação do Dubai World no CityCenter para entre US$ 1,7 bilhão a US$ 2,44 bilhões.

Atualmente, o passivo do Dubai World soma US$ 60 bilhões. Anteontem, após declarar que o conglomerado estava em reestruturação e pedir aos credores a paralisação por seis meses dos vencimentos, um porta-voz do Departamento de Finanças do governo de Dubai disse que os executivos do Dubai World já trabalhavam na reestruturação por algum tempo, mas que o governo havia decidido tomar uma postura "proativa".

O governo de Dubai apontou a Deloitte LLP para liderar o esforço de reestruturação do grupo, nomeando um executivo da consultoria para chefiar a mudança.

O anúncio ocorreu horas depois de o governo de Dubai, separadamente, anunciar a captação de US$ 5 bilhões com emissão de dívida para dois bancos, o National Bank of Abu Dabi e o Al Hilal Bank. Essa foi a segunda tranche de um programa de emissão de US$ 20 bilhões, divulgado em fevereiro. A primeira tranche foi totalmente subscrita pelo governo federal dos Emirados Árabes Unidos.