Título: Jovens vítimas da violência
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2009, Notas e informações, p. A3
É salutar que a grande preocupação a respeito da atual situação dos jovens brasileiros ? que, em altíssimo porcentual, sofrem os efeitos do abandono, do estudo precário ou inexistente, da dissolução familiar, da perversão de costumes e, sobretudo, do vício das drogas ? esteja resultando em estudos cada vez mais abrangentes, destinados a esmiuçar a complexidade do problema. A questão é que, concluído o diagnóstico, muitas vezes as autoridades e as comunidades se dão por satisfeitas, como se a identificação do mal, por si só, fosse remédio suficiente para curá-lo.
Ressalte-se, antes de mais nada, que também neste campo as diferenças regionais do Brasil são gritantes. Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), feita a pedido do Ministério da Justiça, criou um Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência para analisar o nível de segurança dos jovens e adolescentes ? na faixa etária entre 12 e 29 anos ? em 266 municípios com mais de 100 mil habitantes. As cidades paulistas, incluindo a capital, estão entre as mais seguras, do Brasil, para tais jovens. No extremo oposto estão municípios de Pernambuco e Bahia, Estados nordestinos onde os jovens estão mais expostos a morrer assassinados e em acidentes de trânsito ? e não há como deixar de correlacionar esses dois tipos de violência.
Pode até causar surpresa a muitos, mas o fato é que a capital do Estado de São Paulo é a mais bem situada, entre todas as capitais, no ranking da vulnerabilidade dos jovens à violência. E Cubatão, a cidade paulista mais mal situada nesse ranking, aparece apenas em 53º lugar (entre 266). Entre as 42 cidades brasileiras onde os jovens são menos vulneráveis à violência, 26 estão no Estado de São Paulo. São Carlos é a cidade mais segura do País, seguida de São Caetano e Franca. Em contrapartida, das 53 cidades nordestinas com mais de 100 mil habitantes, em 22 delas os jovens se encontram em situação de vulnerabilidade alta e muito alta ? e nesse patamar Pernambuco tem 8 cidades e a Bahia, 7.
Em agosto de 2007, o Ministério da Justiça criou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), com o objetivo de destinar verbas para os municípios brasileiros desenvolverem projetos de segurança pública, incluindo, entre outras ações, a criação de gabinetes de gestão integrada e benefícios salariais para policiais. O programa já recebeu a adesão de 115 municípios e até novembro deste ano havia liberado R$ 900 milhões. No entanto, 58% dos municípios onde há, justamente, o maior índice de violência praticada contra os jovens não aderiram ao programa federal. E os resultados da pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça comprovaram o óbvio: quanto maiores os gastos dos municípios com a segurança pública, menores são os índices de vulnerabilidade de seus jovens. As cidades com menor risco investiram, em média, 1,3% de seus orçamentos nessa área, enquanto as de maior risco, com vulnerabilidade juvenil muito alta, gastaram em segurança não mais de 0,4% de suas verbas.
De um certo modo a pesquisa desmente a impressão, que se tinha, de ser o Rio de Janeiro a cidade mais violenta do País. Cidades e capitais nordestinas, por terem descuidado de investimentos no campo da segurança pública ? e por não terem obtido tantos ganhos assim, como se alardeia, por meio de investimentos no campo social ?, exibem os índices mais trágicos de vulnerabilidade. Os jovens do Recife (47,8%), Salvador (43,2%) e Maceió (41%) foram, não por coincidência, os mais expostos a histórias de violência. No Recife, entre o grupo de jovens mais vulneráveis, 15,1% já tiveram parentes ou colegas de escolas assassinados. No mesmo grupo, nada menos do que 91,9% de jovens já viram corpos de vítimas de homicídios!
A situação exemplar da cidade paulista de São Carlos, onde a participação dos religiosos salesianos tem sido fundamental para a educação dos jovens com a formação de rotinas saudáveis de atividades e de convivência, é uma demonstração de que, além de políticas públicas, ações das comunidades, de organizações da sociedade civil, também são indispensáveis para a melhor orientação da juventude, no caminho de seu desenvolvimento e da evolução de sua consciência de cidadania.