Título: Candidatos uruguaios criticam o Mercosul
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2009, Internacional, p. A22

Tanto o esquerdista José Mujica quanto o ex-presidente Lacalle defendem reformas no bloco

Embora favorável à integração regional, o candidato do governo à presidência do Uruguai, José Mujica, disse ontem que "o Mercosul anda manco e na miséria" e precisa ser melhorado urgentemente. Mujica, da Frente Ampla, é o favorito amanhã no segundo turno da eleição presidencial uruguaia. Segundo pesquisas, ele tem 51% das intenções de votos.

A decepção de Mujica com o Mercosul reflete uma opinião comum entre os uruguaios. Nos últimos anos, a imposição de barreiras aos produtos provenientes do Uruguai nos mercados brasileiro e argentino reforçaram o clima de decepção com o bloco.

"Apesar dos defeitos institucionais que o Mercosul possui, não pensamos em reduzir o bloco", disse Mujica. No entanto, o candidato e provável futuro presidente sustenta que é preciso "lutar para que a região possa ter acordos muito mais abertos com outras regiões do mundo".

Esse foi apenas o sinal mais recente que Mujica e sua equipe econômica emitiram aos governos dos denominados "países grandes" do Mercosul - Brasil e Argentina.

Ontem, o economista Fernando Lorenzo, um dos nomes mais cotados para ocupar a pasta da Economia no governo Mujica, disse ao Estado que existe consenso dentro da Frente Ampla de que o Mercosul é "crucial" para o desenvolvimento econômico do Uruguai. No entanto, Lorenzo, que foi diretor de macroeconomia do ex-ministro Danilo Astori (vice de Mujica), também disse que o Uruguai precisa de acesso a terceiros mercados e, por isso, o novo governo estimulará a retomada das negociações do Mercosul com a União Europeia.

O candidato do Partido Nacional (Blanco), da oposição, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, admite "decepção" com o Mercosul - ele foi um dos "fundadores" do bloco, em 1991. "Só acreditaria que ele hoje é meu filho se fizessem um exame de DNA", disse. "O Mercosul, do jeito que está, não dá para reconhecer. O bloco precisaria ser reformulado, pois predomina um bilateralismo entre brasileiros e argentinos que nos deixa de lado. Deveria ser um Mercosul menos político e somente uma associação econômica e comercial."