Título: Deputado cobra por projeto, diz empresário
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2009, Nacional, p. A4
De acordo com denúncia, parlamentares receberam R$ 1 milhão para aprovar subsídios no setor de transportes
Os holofotes estavam ligados havia uma hora e meia para uma entrevista do presidente da Câmara Legislativa do DF, deputado Leonardo Prudente (DEM) - citado no escândalo do "mensalão do DEM" -, quando apareceu o empresário Valmir Amaral com novas denúncias. "A entrevista não começou porque ele sabe que estou aqui", disse o empresário. "Ele não tem coragem de olhar para minha cara".
Amaral acusou Prudente, a também deputada Eurides Brito (PMDB) e outros parlamentares de receberem R$ 1 milhão de propina de um grupo de empresas de ônibus para aprovarem uma lei de repasse de R$ 8 milhões por mês de subsídios para transporte de estudantes e pessoas com deficiência física. O grupo ainda teria pago R$ 600 mil para os deputados derrubarem um veto do governador José Roberto Arruda ao projeto de subsídio. "Me pediram R$ 170 mil, mas eu não dei", disse o empresário.
Dono de empresas de ônibus e concessionárias de carros, Amaral ficou conhecido no ano 2000, quando assumiu, como suplente, a cadeira do senador Luiz Estevão, cassado por envolvimento em obras superfaturadas do prédio do TRT de São Paulo. Dalmo, pai de Amaral, responde na Justiça por invasão de área pública na beira do Lago Paranoá, para construir uma mansão.
Logo após Amaral sair da sala, Prudente se apresentou, mas não quis comentar a denúncia do empresário. Na entrevista, confirmou ter recebido dinheiro do "mensalão do DEM". Prudente aparece em um vídeo feito pela PF escondendo dinheiro nos bolsos e até nas meias. "Recebi dinheiro e coloquei o mesmo nas minhas vestimentas por questão de segurança. Eu não uso pasta", confessou o deputado, que é dono de uma empresa de vigilância.
Ele disse que não via motivos para se afastar do comando da Câmara. Anunciou que propôs e a mesa diretora aceitou a abertura de processo por quebra decoro parlamentar contra os nove parlamentares envolvidos no esquema. "Por sugestão minha, a mesa diretora está fazendo representação por quebra de decoro de todos os envolvidos, inclusive eu".
Na rápida entrevista, ele disse ainda que foi vítima de chantagem e recebeu oferta de financiamento para a campanha de 2006 do ex-secretário de Relações Institucionais do governo de Brasília, Durval Barbosa. "Estou afirmando que recebi".
Prudente se recusou a comentar o vídeo em que aparece orando com Durval e o deputado distrital Rubens Brunelli (PSC) para agradecer a Deus pelas propinas. A deputada Eurides Brito (PMDB) foi procurada, mas não retornou aos telefonemas. Em um blog na internet, ela comentou ontem que sua "tranquilidade vem do Senhor".