Título: Brasil foca acordo com emergentes
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2009, Economia, p. B8

Plano traçado com países da África Austral e Índia é criar o maior bloco político e comercial do Hemisfério Sul

O chanceler Celso Amorim disse ontem que o Brasil não vai mais apenas apostar nas negociações da Rodada Doha e vê mais chances de avanço nas negociações com países emergentes. Segundo ele, o Brasil terminará 2009 com 60% de suas exportações indo para países emergentes, ante 56% em 2008.

Mas Amorim não esconde sua frustração com a falta de acordo em Doha, lançada em 2001, e diz ter esperanças de que as negociações entre países do Sul sejam mais rápidas. "Não podemos colocar todos os ovos em uma cesta só", disse, admitindo que a questão dos subsídios só será resolvida na Organização Mundial do Comércio (OMC), patrocinadora da Roda Doha.

Nos últimos dias, Amorim fez vários anúncios de acordos comerciais. Ontem, foi a vez de o ministro do Comércio do Egito, Rashid Mohamed Rashid, informar que se comprometeu a concluir um acordo de livre comércio com o Mercosul até junho de 2010. "Fechamos um compromisso de que isso ocorra; é do interesse de todos", disse. O Egito importa alimentos e quer exportar têxteis.

Também ontem, o Brasil, os países da África Austral e a Índia lançaram a ideia de criação do maior bloco político e comercial do Hemisfério Sul. Rob Davies, ministro do Comércio sul- africano, disse que o projeto pode levar anos.

Amanhã, Amorim espera assinar com outros 18 países do Hemisfério Sul um acordo para o corte de tarifas em 20%. Como o Estado informou ontem, o Brasil abrirá seu mercado para os produtos dos 30 países mais pobres do mundo.

Os beneficiados, como Bangladesh, já calculam os lucros. "Queremos vender têxteis baratos para o Brasil. Quem vai ganhar é a população brasileira de menor renda", afirmou o ministro Mohamed Khan.

O ministro de Comércio de Cuba, Rodrigo Malmierca, também pediu a Amorim maior aproximação entre os dois países na área comercial e de investimentos.

Mas o Brasil não é o único a buscar acordos. O México anunciou que não vai mais esperar Doha para abrir seu comércio e buscar mercados. Por isso, reduzirá de 10,4% para 4,3% suas tarifas até 2012 e 65% das linhas tarifárias serão isentas.

Enquanto a OMC agoniza e países buscam outras soluções, a ONU alerta que o desemprego continuará a crescer. "Brasil, Índia e China voltaram a crescer, mas a crise ainda está impactando muitos países emergentes", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, em declaração lida na OMC.

Segundo ele, 2009 terminará com 59 milhões de desempregados a mais que em 2008 e o comércio cairá em 11%. "Precisamos fazer melhor para administrar o mercado mundial", disse ele. A ONU apelou para que os governos se comprometam em manter abertos seus mercados e que resistam à "cultura corrosiva do protecionismo".

Pascal Lamy, diretor da OMC, acredita que o sistema multilateral está dando conta das pressões globais nas crise, ainda que admita que 2009 passará para a história como um dos mais críticos. "O sistema comercial foi posto à prova e suas regras evitaram a proliferação do protecionismo", disse.