Título: Grupos de Serra e Aécio trocam farpas
Autor: Moraes, Marcelo de; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2009, Nacional, p. A8

Uma ala liga Arruda ao mineiro e a outra vê rival como grande perdedor

O escândalo do mensalão do governo do Distrito Federal deflagrou um jogo de empurra nos bastidores do PSDB. Aliados dos dois pré-candidatos à Presidência, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), tentam debitar - um na conta do outro - o prejuízo político da ligação com o DEM do governador José Roberto Arruda.

Os serristas dizem que Arruda pertence ao grupo do mineiro. Acusam também o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), de ter "se escudado" no governador do DF para "alardear" sua preferência por Aécio como forma de fazer frente à influência do ex-presidente do partido Jorge Bornhausen e se afirmar no comando da legenda.

Para os aecistas, porém, quem mais perde com a "queda da cidadela do DEM" é Serra. O raciocínio dos aliados de Aécio é simples. Eles sustentam que o grande perdedor é o paulista porque o DEM é um dos "pilares" da estratégia que Serra montou para disputar a corrida de 2010, enquanto o mineiro trabalha com a perspectiva de uma aliança bem mais ampla.

CONFIANÇA

Os aecistas afirmam que não é de hoje que Serra aposta todas as fichas na parceria com o DEM, dizendo que foi ele quem escolheu Gilberto Kassab para ser seu vice na prefeitura de São Paulo, para transformá-lo em sucessor, quando se lançasse ao governo estadual.

Foi essa operação política que tornou Serra um parceiro de "total confiança" para o DEM. Não que Aécio não seja um parceiro confiável, mas, segundo aecistas, Serra é o pré-candidato que tem sua imagem política mais associada ao DEM.

O grupo de Serra insiste em que o episódio do "mensalão do DEM" pouco afetará a caminhada do governador de São Paulo rumo ao Palácio do Planalto. Ponderam que Brasília não vincula o governo local à disputa presidencial e dizem que o pior desempenho eleitoral de Serra é justamente no DF. As pesquisas eleitorais de que dispõem mostram o tucano sempre em terceiro lugar no Distrito Federal, onde a preferência maior é pelo pré- candidato do PSB, deputado Ciro Gomes (SP).

Os serristas se entusiasmaram com a decisão firme da Comissão Executiva Nacional. Como disse o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), o mais importante é que o PSDB não vacilou em se retirar do governo Arruda e em condenar de maneira clara os "gravíssimos fatos" ocorridos no DF.

TRANCO

Aecistas e serristas concordam em um ponto - o fundamental para evitar que o "mensalão do DEM" contamine o PSDB foi a manifestação da Executiva, em favor da apuração das denúncias "com toda a energia". Ao fim de uma avaliação sobre a conjuntura e seus efeitos em 2010, um velho dirigente tucano concluiu que o episódio foi "ruim para todo mundo" e não há saída, a não ser "aguentar o tranco".