Título: Petrobrás vai furar 1º poço para capitalização
Autor: Freitas, Tatiana ; Schincariol, Roberval Angelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2009, Economia, p. B3

ANP autoriza perfuração em local próximo ao campo de Iara, onde a estatal já achou petróleo

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizou ontem a Petrobrás a perfurar um primeiro poço em busca das reservas que serão usadas no processo de capitalização da companhia. O poço será perfurado no norte da Bacia de Santos, próximo à descoberta de Iara, onde a companhia já anunciou ter encontrado entre 3 e 4 bilhões de barris de petróleo. Segundo a ANP, a Petrobrás assumirá todos os riscos da operação.

Em nota divulgada ontem, a agência diz que o poço será "estratigráfico", ou seja, com o objetivo de observar todas as camadas do subsolo na região. Especialistas dizem que é um tipo de poço que não tem por objetivo inicial encontrar reservas de petróleo, mas é importante para garantir um melhor conhecimento dos aspectos geológicos da área do pré-sal.

Será o primeiro poço perfurado pela Petrobrás fora de áreas onde tem concessão, desde o fim do monopólio estatal, em 1997. A companhia deverá entregar à agência os originais de todos os dados recolhidos na operação, que serão tornados públicos pela agência. Uma fonte próxima às negociações disse que a agência optou por liberar a perfuração pela Petrobrás - ao invés de contratá-la, como era esperado - para evitar a obrigatoriedade de realizar uma licitação.

O poço terá profundidade prevista de 6.425 metros. Segundo especialistas, a área ao Norte de Iara foi escolhida por tratar-se de uma das regiões de maior profundidade na Bacia, onde a empresa poderá encontrar o maior número de camadas no subsolo. A expectativa é que a perfuração leve metade do tempo de um poço petrolífero comum, que chega a dois ou três meses, e que custe entre 10% a 15% a menos. A Petrobrás ficará responsável pela obtenção das licenças ambientais.

Em evento realizado ontem pela Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (Abrasca), o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, disse que ainda não há decisão sobre a localização das reservas que serão cedidas à estatal pela União. Originalmente, reconheceu, a ideia era buscar reservatórios próximos às descobertas já feitas pela companhia. Ele não descartou, porém, mudanças no processo.

Na semana passada, o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, disse que, agora, há maior disposição pela busca de reservatórios isolados, com reservas entre 2 e 3 bilhões de barris cada. Para geólogos próximos à estatal, há boas chances de haver perfurações no sul da Bacia de Santos, próximo ao BM-S-22, operado pela Exxon. A Petrobrás, porém, não confirma a informação.

Até agora, a estatal e seus parceiros descobriram 10 jazidas de petróleo na área do pré-sal da Bacia de Santos. Em três delas, identificaram reservas potenciais que podem chegar a 14 bilhões de barris, volume equivalente às reservas provadas brasileiras ao final de 2008. Barbassa defendeu que a adição de mais 5 bilhões no processo de cessão onerosa vai fortalecer a companhia para explorar o pré-sal.

A capitalização, disse, vai permitir à empresa que feche um maior número de contratos de longo prazo com fornecedores sem risco de rebaixamento por agências classificadoras de risco. Isso porque este tipo de contrato é encarado como dívida na avaliação das empresas.