Título: O preço do protagonismo
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2009, Internacional, p. A12

Era questão de tempo até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passar por uma situação incômoda, como a de ontem, por defender o Irã e sua política nuclear. Depois de ouvir a chanceler alemã, Angela Merkel, advertir que as potências ocidentais já perderam a paciência com a tática iraniana de ganhar tempo nas negociações e deixar claro que a adoção de sanções é o caminho que resta, um sem-graça Lula preferiu repetir o discurso: precisamos acreditar no Irã e ter paciência.

A resposta soou vazia e expôs, dez dias depois de receber o presidente Mahmoud Ahmadinejad em Brasília, o preço que o presidente brasileiro tem de pagar pela aspiração a estadista de projeção mundial, capaz de liderar os países emergentes e mediar conflitos, da América Central ao Oriente Médio, tudo ao mesmo tempo.

A aspiração de Lula reflete o peso que o Brasil ganhou no cenário externo. Em seu mandato, o País cresceu, reduziu a pobreza e escapou praticamente imune da crise financeira mundial. De quebra, ganhou a briga pela Olimpíada de 2016 e foi saudado como "o cara" por Obama. Lula mostrou que o Brasil pode atuar como interlocutor confiável do Primeiro Mundo.

Mas a briga entre o Irã e as potências ocidentais deixou claro que o peso brasileiro é limitado. Só Ahmadinejad se deu bem com sua visita ao Brasil - repetiu o discurso de o Irã ter direito a um programa nuclear e ganhou apoio de Lula. Dias depois, o Irã acabou sofrendo uma condenação na ONU, com voto até de seus aliados China e Rússia, por manter uma usina clandestina. Agora, resta a Lula pedir paciência com Teerã.