Título: Parlamento promete rever laços diplomáticos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2009, Internacional, p. A13

Irã ameaça mudar relações com todos os países que votaram por censura contra ele na AIEA

O Parlamento do Irã anunciou ontem que revisará seus laços com todos os países que votaram contra ele na semana passada na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Por 25 votos a 3 - com 6 abstenções, entre elas a do Brasil - a agência da ONU aprovou uma resolução de censura ao Irã pela construção em segredo de uma usina atômica de enriquecimento de urânio próxima à cidade de Qom. AIEA exige que as obras sejam paralisadas imediatamente.

"O Parlamento revisará as relações do Irã com aqueles países que votaram pela recente resolução contra nós", afirmou o presidente do Legislativo, Ali Larijani, para a agência de notícias oficial, Irna. Além dos tradicionais críticos do regime iraniano, como os EUA e as potências europeias, votaram pela censura dois dos principais parceiros comerciais do Irã - a Rússia e a China - o que torna pouco provável alguma mudança significativa na diplomacia do país.

SANÇÕES

Tanto Rússia como China, que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, estão, aparentemente, mais propensas a apoiar um endurecimento das sanções contra o Irã, caso as tentativas de diálogo fracassem. Até agora, as iniciativas de negociar com Teerã, apoiados pelo presidente americano, Barack Obama, se mostraram infrutíferas.

Em claro desafio à condenação da AIEA, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou no domingo a construção de mais dez usinas nucleares e disse que o país irá, por conta própria, enriquecer "todo o urânio que precisar".

A principal proposta da AIEA era de que o urânio de baixo enriquecimento do Irã fosse processado fora do país - na França e na Rússia - , voltando ao território iraniano como produto final para uso médio ou energético, o que dificultaria o uso do material para a produção de armas atômicas.

ARMAS

Inicialmente, Ahmadinejad havia se mostrado disposto a aceitar o plano, mas evitou dar uma resposta clara. O Irã garante que seu programa nuclear tem fins exclusivamente civis, mas as potências ocidentais suspeitam que o país esteja tentando desenvolver armamentos atômicos.

Ontem, a Casa Branca alertou ao Irã que "está se esgotando" o tempo para que o país aceite a proposta da comunidade internacional e evite a imposição de novas sanções. Em declarações à imprensa americana, o porta-voz do governo dos EUA, Robert Gibbs, afirmou que o final deste ano continua sendo o prazo para que Teerã dê uma resposta à comunidade internacional.

De acordo com Gibbs, está "bastante claro" que os iranianos não têm intenção de aceitar nenhum acordo. Anteriormente, Obama já havia informado que os contatos entre Washington e as principais potências mundiais para discutir a imposição de sanções contra o Irã já estavam adiantados.