Título: Projeção indica vitória fácil de Evo
Autor: Moreira, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2009, Internacional, p. A9

Em votação tranquila, presidente boliviano tem vantagem de 36 pontos porcentuais sobre segundo colocado

Projeções com base na apuração oficial indicavam ontem a vitória arrasadora do presidente Evo Morales. Segundo contagem informal feita pelas redes de TV locais com base em pesquisas de boca de urna, com 91% dos votos apurados, ele obtinha 63% - 36 pontos porcentuais de vantagem sobre o segundo colocado, o opositor Manfred Reyes Villa (27% dos votos). O empresário Samuel Doria Medina teria ficado com 6%. O partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (MAS), também teria obtido a maioria de dois terços do Senado. Segundo boca de urna da empresa Ipsos, o MAS conquistaria 24 das 36 cadeiras da Casa.

Evo tinha se declarado reeleito - atribuindo-se mais de 70% dos votos - numa entrevista coletiva concedida logo depois do fim da votação.

"Estou seguríssimo de que ganharemos nos nove Departamentos (Estados) do país", disse Evo, em Cochabamba. "Na primeira vez, ficamos com 53,7% dos votos (em dezembro de 2005); depois, tivemos 67,4% (no referendo revogatório de agosto de 2008); agora, vamos subir mais um degrau e teremos mais de 70%."

A boca de urna da TV privada Red Uno, porém, indicava que Evo perderia em pelo menos três departamentos da região conhecida como Meia Lua, no leste boliviano: Santa Cruz, Pando e Beni. Juntamente com a votação para presidente os Departamentos de La Paz, Cochabamba, Oruro, Potosí e Chuquisaca aprovaram um regime de descentralização autônoma em referendos.

O presidente votou por volta das 9 horas no Chapare, em Cochabamba - seu berço eleitoral, onde se tornou conhecido como líder sindical dos plantadores de folha de coca da região. "Está na hora de o povo escolher se quer a mudança ou o neoliberalismo", declarou ao votar, acrescentando que nenhum presidente neoliberal ajudou a Bolívia a crescer. Depois de votar, em La Paz, o vice-presidente Álvaro García Linera criticou os opositores do governo, aos quais acusou de adotar um "comportamento selvagem". "Numa verdadeira democracia, a maioria é que manda e a minoria tem de respeitar."

Reyes Villas reagiu às declarações dos governistas: "Este é o momento de escolher para onde vamos. Se vamos pelo caminho da intolerância ou da paz e do desenvolvimento. Se vamos deixar nosso país ser controlado pela Venezuela de Hugo Chávez ou se teremos nossa autonomia", disse o candidato - que às vésperas de eleição enfrentou a denúncia de que estaria tentando fraudar o resultado das eleições. Reyes Villa também é acusado pelo governo de ter participado da morte de 11 camponeses partidários de Evo no Departamento de Pando, em setembro de 2008.

Em Cochabamba, três pessoas foram presas tentando votar mais de uma vez - uma delas usava os documentos de um irmão morto. A Católica TV, emissora local boliviana, informou que, na cidade de San Joaquín, em Beni, recrutas do Exército tinham de dar a cédula de votação para que seus superiores preenchessem, mas a denúncia não foi confirmada.

Um grupo de 124 observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) veio ao país para fiscalizar o processo eleitoral e qualificaram a eleição como "exemplar".

Para o analista político Roberto Laserna, professor da Universidade Mayor de San Simón e pesquisador do Centro para Estudos Econômicos em Cochabamba, uma esmagadora vitória de Evo poderia, curiosamente, dificultar sua gestão. "As expectativas são muito elevadas e, com menos oposição, fica difícil encontrar alguém a quem culpar pelos poucos avanços do governo", explica.

A repórter viaja a convite da Fundación Nuevo Norte e Comité de Promoción Turística de La Paz

FUTURO

Evo Morales Presidente boliviano e candidato à reeleição

"Está na hora de o povo escolher se quer a mudança ou o neoliberalismo"

Manfred Reyes Villas Principal adversário de Evo na disputa eleitoral

"É o momento de escolher para onde vamos. Se vamos pelo caminho da intolerância ou da paz e do desenvolvimento. Se vamos deixar nosso país ser controlado por Chávez ou se teremos autonomia"

Roberto Laserna Professor da Universidade Mayor de San Simón

"Com menos oposição, será mais difícil aceitar que se culpe a oposição pelos poucos avanços do governo"