Título: Alunos correm para ver jogo
Autor: Paraguassú, Lisandra ; Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2009, Vida&, p. A14

Na Uerj, barulho de torcida atrapalhou concentração

Quando o relógio marcava 14h55, o estudante Cherubin Cunha, de 18 anos, já tinha sua prova do Enem pronta para entregar ao examinador. Vestido com a camisa do Flamengo, ele só esperava a autorização para sair do câmpus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no Maracanã, em direção ao estádio vizinho onde seu time disputava uma partida decisiva.

Dividido entre o almejado futuro na Engenharia e o presente do time, acelerou na prova de matemática, driblou as questões mais longas de português e terminou a redação pouco antes das duas horas regulamentares para poder sair da sala e ser o primeiro a deixar o câmpus em direção ao jogo. "Fiz tudo rapidinho, não deu tempo de revisar. Posso ter comprometido a prova, mas vale pelo Flamengo", afirmou Cherubin, impaciente. "Ainda tenho que encontrar um cambista", justificou.

Como o jovem, grande parte dos estudantes foi fazer a prova com a camisa do Flamengo. No entanto, a maioria sofreu com o barulho da torcida, que usava o estacionamento o da universidade. Muitos paravam os carros com altos-falantes no último volume, gritavam e soltavam foguetes que chegaram a provocar crise nervosa em alguns candidatos nas salas. Seguranças pediram silêncio, mas não foram atendidos. "Importante não é o dia da prova, mas o dia do Flamengo", gritou um torcedor. O barulho só diminuiu por volta de 15h, mas os ruídos dos torcedores foram substituídos pelos helicópteros de redes de TV.

"Foi muito difícil a concentração. Toda hora eu levava um susto com os foguetes", queixou-se a tricolor Adrízia Muniz, de 17 anos. "Quem fez a prova na Uerj ficou em desvantagem porque o barulho atrapalhou muito", concordou a flamenguista Ana Cláudia Lira, de 21 anos.

Entre os candidatos entrevistados, o único que não reclamou do barulho foi mesmo Cherubin. "Em mim deu mais emoção", contou.